Crônicas do cotidiano:  Encontros, Afetos e (re)existências de uma pesquisadora Artivista GORDA

XIX Congreso de la Asociación Internacional de Mujeres Filósofas

“Feminismos hoy, aportes filosóficos contra la violencia, la discriminación y las exclusiones”

La filosofía como práctica feminista / Philosophy as a feminist practice

Feminismo Gordo: por uma filosofia gorda

Feminismo gordo: hacia una filosofía gorda

Em maio de 2023, tive a oportunidade de participar de um Congresso feminista na Universidade de Buenos Aires (UBA), na Argentina, para compartilhar reflexões sobre o feminismo gordo e a filosofia gorda. Foi uma experiência marcante, tanto pelo desafio de apresentar em outra língua quanto pelo acolhimento caloroso das mulheres filósofas que compunham o debate. Além disso, conheci uma rede inspiradora de mulheres filósofas que estão promovendo mudanças significativas em suas universidades no Brasil e no mundo.

Tive um reencontro maravilhoso com uma amiga que conheci na época da Universidade, faz tempooooo 97-98. Estavamos indo para um Evento de Filosofia em Belém do Pará, e a conheci no ônibus que viajavamos, de lá pra cá nos vimos algumas vezes pontuais, inclusive quando morei na Espanha ela também morou por lá, mas fazia mais de 10 anos que não nos víamos. Foi emocionante reviver tantas memórias juntas! Para tornar o momento ainda mais especial, ela me convidou para passear em Buenos Aires. Lá, exploramos a cidade, rimos muito e provamos comidas incríveis que só tornaram a experiência ainda mais inesquecível. Foi um daqueles encontros que aquecem o coração e nos fazem perceber o quanto as amizades verdadeiras resistem ao tempo e à distância.

Minha proposta no evento foi discutir como o regime cisheteronormativo influencia a reprodução de corpos e subjetividades dentro de um pensamento hegemônico, que categoriza corpos como “normais” ou “patológicos”. A gordofobia, enquanto violência epistêmica, muitas vezes silencia as experiências das pessoas gordas. No entanto, o feminismo gordo surge como uma resposta potente, propondo novas epistemologias que valorizam sentimentos, dores e vivências como formas legítimas de conhecimento.

Inspirada por pensadoras como Donna Haraway, busquei refletir sobre como os discursos de poder moldam tecnologias e corpos dentro do capitalismo contemporâneo. O feminismo gordo, nesse contexto, não apenas denuncia essas violências estruturais, mas também propõe epistemologias decoloniais que reconhecem as experiências das mulheres como saberes revolucionários.

A partir da minha vivência como filósofa feminista gorda no Brasil, percebo a importância de trazer à tona nossas narrativas insurgentes. O que significa habitar um corpo considerado abjeto numa sociedade centrada na heteronormatividade e na magreza? Como podemos transformar essa vivência em uma proposta política que ressignifique nossas formas de ser e estar no mundo? Essas questões têm guiado minha jornada acadêmica e ativista.

Utilizando a autoetnografia como método, procuro explorar novas maneiras de filosofar, rompendo com paradigmas cisheteronormativos e eurocêntricos. Minha pesquisa busca valorizar os saberes locais, os afetos e as histórias que transbordam das nossas corpas. Trata-se de um trabalho criativo e político, que propõe uma filosofia gorda comprometida com a transformação social.

Essa jornada tem sido um encontro com dores, afetos e curas. É um convite para revisarmos as estruturas de produção de conhecimento e criarmos novos caminhos que reconheçam nossas potencialidades. Afinal, filosofar também é resistir e revolucionar. Que possamos continuar construindo um mundo mais inclusivo e acolhedor para todas as corporalidades!

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Poder transformar aquilo que te faz mal em algo criativo vem ao encontro de um trabalho do feminismo de aceitação e entendimento do próprio corpo, de muitas maneiras e buscas. Entender que as pessoas que te reprovam e não te aceitam são as que precisam de ajuda, pois se incomodam com algo e não sabem bem o porquê. “

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Este livro é resultado de sua pesquisa que teve origem em sua tese de doutorado, a qual propõe análises teóricas para investigar a estigmatização institucionalizada sob a qual os corpos gordos são colocados. Lute como uma gorda está disponível para venda e comprando por aqui você recebe uma dedicatória especial da autora