Começo afirmando: o Laboratório não era o que eu imaginava…
Ainda bem.
Quando me vi imersa na vida acadêmica, acreditei encontrar, no laboratório, uma chance — talvez até uma exigência — de moldar minha escrita aos contornos desse mundo tão cheio de formas, prazos e normas. Um mundo que me cobra, constantemente, uma linguagem que não me veste inteira. Pensei que o Laboratório me ensinaria a caber.
Mas ele fez o contrário.
Ainda bem.
O que encontrei ali foi espaço — para escuta, para memória, para silêncio e presença. Encontrei, antes de tudo, a mim. E, no reflexo do outro, reconheci fragmentos da minha própria história. Foi então que provei, com surpresa, o gosto agridoce de me escrever. De olhar para dentro com coragem e transformar em palavra o que tantas vezes preferi calar.
Difícil, porque dói.
Necessário, porque liberta.
A cada linha, fui compreendendo que minha trajetória — com todas as suas rupturas, pausas, voltas e recomeços — podia ser matéria de escrita. Não como produto, mas como pulsação. E assim nasceu minha escrita afectiva: urgente, indócil, cheia de vida. Tecida por memórias miúdas, por ecos de outras vozes, por dores que se atravessam e se encontram.
Histórias que, ora se assemelham às de es colegas, ora caminham em rota própria — mas que, no Laboratório, foram acolhidas, validadas, transformadas em linguagem e afeto.
Ali, compreendi que não era preciso me enquadrar, mas escutar o que em mim transborda da margem.
E escrever.


Laís Caetano Lira
Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Professora da Educação Básica na Secretaria de Estado de Educação em Mato Grosso (SEDUC - MT); Mestranda em sociologia na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Insta: @alaiscaetanolira