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Eu não sei escrever. por Loraine V. Gaino.

Eu comecei o Laboratório de Escritas Afetivas com esse pensamento. E fui pra esse laboratório muito desconfiada e resistente. Algo meu queria se haver com meu próprio processo de escrita depois de 10 anos de tentativas frustradas de me tornar uma escritora… ACADÊMICA. Foram cerca de 5 treinamentos específicos, além de um curso de seis meses, pra tentar dar conta de fazer algo que eu achava que eu precisava: escrever bem um artigo científico.

O resultado de tantas empreitadas acabou sendo só um sofrimento intenso: eu escrevia nesse estilo, mas sempre muito porcamente. O texto do meu mestrado foi totalmente revisado pela minha orientadora, o do doutorado, por um colega, professor de Letras, e ambos, por uma empresa revisora de ortografia e escrita acadêmica. Os artigos científicos sempre foram escritos em conjunto e eu contribuía de várias outras formas – analisando dados, fichamentos, organizando para o processo de publicação, etc… mas escrevendo, muito pouco.

Os concursos que prestei após o doutorado também confirmaram o que minha ex-orientadora de mestrado e doutorado repetia todo encontro de orientação: você não sabe escrever. Tive notas bem medianas nessas avaliações de texto.

Um dos resultados disso foram anos fugindo da escrita. Eu até escrevo algumas coisinhas pífias pra redes sociais, impulsionada pela necessidade de produzir conteúdo para minhas páginas profissionais, mas nada com muito impacto e profundidade. E até mesmo, num movimento irônico da vida, foi eu fazer um pós-doutorado num programa de um curso de LETRAS. Mas mesmo assim, escapei da produção de escrita. Fiz várias atividades no pós-doutorado: participei de Grupo de Estudos, dei aulas, organizei eventos, apresentei em um congresso… mas, o máximo que produzi de escrita foi um resumo pra esse congresso. Eu resistia e fugia de escrever. “Você não sabe escrever” – ecoava sempre em mim a frase da minha ex-orientadora.

Bom, se eu não sei escrever, como você está me lendo?

É que nessa frase “Eu não sei escrever” falta um advérbio de modo bem especifico… Eu não sei escrever ACADEMICAMENTE.

E essa palavrinha “academicamente” nessa frase foi fundamental pra dar um limite extremamente necessário. Eu não sei escrever para esse lugar ACADÊMICO que demanda um estilo de escrita formal, sintético, objetiva, polido e, principalmente, estéril. Entendi que esse estilo de texto é uma tentativa de emular o que parte das ciências tentam ser: racionais e neutras. O que bem sabemos que não é verdade, mas elas continuam tentando.

Portanto, a escrita científica-acadêmica deve ser impessoal e assujeitada. Assujeitada aqui, pra mim, significa “sem sujeito”, ou seja, sem subjetividade. Não importa quem realiza a pesquisa, não deve transparecer nada daquele que escreve. Sabemos que isso é impossível, a autoria acaba aparecendo de alguma forma. Mas o que quero dizer é que, objetivando esse lugar extremamente racional, objetivo, direto e sintético, há um esforço para o apagamento da subjetividade da pesquisadora. E aqui o Laboratório me trouxe um segundo insight dolorido e necessário: meu corpo resistiu a esse apagamento subjetivo.

Lembrem-se que disse que eu fiz vários cursos para aprender a escrever cientificamente-academicamente. Inclusive, quando tive oportunidade de ser orientadora de Trabalhos de Conclusão de Curso, todes mis alunes tiveram notas máximas nas avaliações ou muito próximo dessas. Afinal, cognitivamente e racionalmente eu tinha e sabia todas as ferramentas para esse estilo de texto. Inclusive, fui muito eficiente na orientação desses trabalhos acadêmicos. Porém, a cognição-racionalidade não era suficiente. Porque não há algo central para a escrita: o corpo.

Essa semana, inclusive, nos meus atendimentos clínicos (sou psicóloga) uma analisanda me trouxe algo incrível. Ela é professora de ensino infantil e seu campo de especialidade é a alfabetização. Ela me contou que nenhuma criança consegue aprender a escrever uma letra se aquilo não tiver sido vivido pelo corpo dela. Explicou-me que, para alfabetizar a criança, essa precisa sentir a letra desenhada no chão, numa massinha, na pele – ela rabisca a letra nas costas da criança, por exemplo. E só depois, de todo esse processo, a criança consegue desenhar a letra.

Portanto, em todos esses 10 anos, meu corpo resistiu a uma escrita estéril e fria. Minha “cabeça”, a parte racional, intelectual, queria que eu o fizesse, mas meu corpo se recusava. As frases, parágrafos acabavam saindo confusos ou, minimamente, medíocres. E por isso eu ouvi tantas críticas…

Para aquelus que não sabem, a facilitadora do Laboratório, Malu Jimenez, é uma baita pesquisadora e, para mim, a maior liderança do ativismo do corpo gordo, aliás, das corpas gordas do Brasil. Portanto, discussões sobre corpo nessa Oficina me movimentaram esse insight: eu precisava escrever com meu corpo, não com meu intelecto.

Enfim, finalmente, eu pude entender que sei sim escrever. E complemento com algo importantíssimo que aprendi com o Laboratório, não apenas digo que SEI SIM ESCREVER, mas principalmente EU POSSO ESCREVER. E vocês estão acompanhando esse momento de virada de chave comigo.

Eu não quero escrever para a esterilidade acadêmica, esse muito higiênico, frio, calculista e moralista. Pra mim me interessam corpas e escritas dissidentes, na qual há sujeitas, sujeites, sujeitos cheio de subjetividade, afetos e vida. Escritoras e leitoras que existem, pensam e, principalmente, sentem. Sentem com todas a pele, órgãos, entranhas, tripas. Se afetam. Eu não quero essa escrita limpinha. Quero a bagunça do corpo que brinca e o caos da subjetividade. De toda vida pulsante. Que se lasquem as regras ortográficas e a normas da ABNT.

Eu existo e sempre existi. Com todo o tamanhão de uma mulher alta e gorda. Uma corpa que resistiu a escrever de forma acadêmica e que sempre resistiu em ser pequeno. Uma corpa que eu tentei emagrecer até meus 30 anos. Então, talvez, eu também esteja entendendo que minha corpa, eu e minha escrita tem direito de existir e ser. Exatamente do jeito que é.

Portanto, quero ser mais uma corpa, voz e letras que ecoa junto com a vida que há muito além dos muros das instituições acadêmicas. Uma pessoa que escreve para a vida.

Eu sei escrever.

Crônicas do cotidiano:  Encontros, Afetos e (re)existências de uma pesquisadora Artivista GORDA

XIX Congreso de la Asociación Internacional de Mujeres Filósofas

“Feminismos hoy, aportes filosóficos contra la violencia, la discriminación y las exclusiones”

La filosofía como práctica feminista / Philosophy as a feminist practice

Feminismo Gordo: por uma filosofia gorda

Feminismo gordo: hacia una filosofía gorda

Em maio de 2023, tive a oportunidade de participar de um Congresso feminista na Universidade de Buenos Aires (UBA), na Argentina, para compartilhar reflexões sobre o feminismo gordo e a filosofia gorda. Foi uma experiência marcante, tanto pelo desafio de apresentar em outra língua quanto pelo acolhimento caloroso das mulheres filósofas que compunham o debate. Além disso, conheci uma rede inspiradora de mulheres filósofas que estão promovendo mudanças significativas em suas universidades no Brasil e no mundo.

Tive um reencontro maravilhoso com uma amiga que conheci na época da Universidade, faz tempooooo 97-98. Estavamos indo para um Evento de Filosofia em Belém do Pará, e a conheci no ônibus que viajavamos, de lá pra cá nos vimos algumas vezes pontuais, inclusive quando morei na Espanha ela também morou por lá, mas fazia mais de 10 anos que não nos víamos. Foi emocionante reviver tantas memórias juntas! Para tornar o momento ainda mais especial, ela me convidou para passear em Buenos Aires. Lá, exploramos a cidade, rimos muito e provamos comidas incríveis que só tornaram a experiência ainda mais inesquecível. Foi um daqueles encontros que aquecem o coração e nos fazem perceber o quanto as amizades verdadeiras resistem ao tempo e à distância.

Minha proposta no evento foi discutir como o regime cisheteronormativo influencia a reprodução de corpos e subjetividades dentro de um pensamento hegemônico, que categoriza corpos como “normais” ou “patológicos”. A gordofobia, enquanto violência epistêmica, muitas vezes silencia as experiências das pessoas gordas. No entanto, o feminismo gordo surge como uma resposta potente, propondo novas epistemologias que valorizam sentimentos, dores e vivências como formas legítimas de conhecimento.

Inspirada por pensadoras como Donna Haraway, busquei refletir sobre como os discursos de poder moldam tecnologias e corpos dentro do capitalismo contemporâneo. O feminismo gordo, nesse contexto, não apenas denuncia essas violências estruturais, mas também propõe epistemologias decoloniais que reconhecem as experiências das mulheres como saberes revolucionários.

A partir da minha vivência como filósofa feminista gorda no Brasil, percebo a importância de trazer à tona nossas narrativas insurgentes. O que significa habitar um corpo considerado abjeto numa sociedade centrada na heteronormatividade e na magreza? Como podemos transformar essa vivência em uma proposta política que ressignifique nossas formas de ser e estar no mundo? Essas questões têm guiado minha jornada acadêmica e ativista.

Utilizando a autoetnografia como método, procuro explorar novas maneiras de filosofar, rompendo com paradigmas cisheteronormativos e eurocêntricos. Minha pesquisa busca valorizar os saberes locais, os afetos e as histórias que transbordam das nossas corpas. Trata-se de um trabalho criativo e político, que propõe uma filosofia gorda comprometida com a transformação social.

Essa jornada tem sido um encontro com dores, afetos e curas. É um convite para revisarmos as estruturas de produção de conhecimento e criarmos novos caminhos que reconheçam nossas potencialidades. Afinal, filosofar também é resistir e revolucionar. Que possamos continuar construindo um mundo mais inclusivo e acolhedor para todas as corporalidades!

A Luta por Espaço e Voz no Debate sobre Gordofobia em Saúde

 

 A Luta por Espaço e Voz no Debate sobre Gordofobia em Saúde

Quem vê close, não vê corre. Esse ditado popular nunca fez tanto sentido pra mim como nos últimos meses. A gente olha as redes sociais, as fotos bonitas, as conquistas, mas esquece que por trás de cada vitória tem muito suor, luta e, às vezes, lágrimas. E hoje quero compartilhar com vocês os bastidores de uma das experiências mais marcantes da minha trajetória nos estudos e ativismo gordo: nossa participação no 9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde – ABRASCO, que aconteceu em novembro de 2023, em Recife.

O tema central do evento já era potente: “Emancipação e Saúde: Decolonialidade, reparação e reconstrução crítica”. E foi nesse espaço que conseguimos propor e realizar a primeira mesa de debate sobre gordofobia pelos estudos do corpo gordo. Sim, pessoas gordas falando sobre seus próprios corpos, suas pesquisas  e suas experiências. Parece óbvio, mas acreditem: foi uma jornada árdua para chegar lá.

A Proposta: Falar Sobre Gordofobia na Saúde

A ideia da mesa “Gordofobia: violências em saúde” surgiu da necessidade urgente de trazer para o debate o atendimento precário e muitas vezes desrespeitoso que as pessoas gordas enfrentam no sistema de saúde. A gordofobia, infelizmente, ainda é uma lógica que permeia práticas médicas, dificultando tratamentos e criando barreiras que impedem a promoção da saúde para corpos gordos.

Nossa proposta era  trazer novos saberes decolonizados e questionar o paradigma da obesidade, que patologiza corpos fora de padrões normativos. Queríamos falar sobre as violências estruturais, o preconceito epistemológico e a urgência de despatologizar os corpos gordos. Além disso, destacar as resistências construídas por pessoas gordas através da arte, cultura e ativismo.

A Primeira Barreira: A Rejeição da Proposta

Quando enviamos a proposta, veio a resposta: não seria possível incluir nossa mesa porque havia muitas inscrições. Foi um balde de água fria. Mas quem me conhece sabe que eu não desisto fácil. Olhei toda a programação e percebi que não havia absolutamente nada sobre gordofobia pelos estudos do corpo gordo. Isso me indignou profundamente.

Então, comecei a mobilizar pessoas, enviei inúmeros e-mails para a organização do evento, argumentei, discuti e pedi uma revisão na seleção. Depois de muita insistência, recebemos a notícia: nossa mesa foi aprovada! Foi uma vitória suada, mas só o começo do desafio.

O Dia da Mesa: Um Encontro com Resistências

No dia da mesa, chegamos ao auditório no Centro de Biociências sob o calor típico de Recife. Encontrei um grupo de pessoas do lado de fora do auditório. Perguntei por que não estavam lá dentro no ar condicionado e ouvi relatos de que estavam se sentindo mal com o que estava sendo dito lá dentro. Entramos juntEs.

O cenário era desconfortável: um grupo majoritariamente branco e magro falando sobre “obesidade” de forma biologicista e violenta, ignorando completamente a presença das pessoas gordas ali na sala. Foi um momento difícil. Quem é gordo sabe como essas situações podem disparar gatilhos emocionais. Mas decidimos resistir.

Quando abriram para falas, levantei a mão e expus como aquela experiência tinha sido violenta. Falei sobre o desrespeito em ignorar nossa presença ali e como era urgente promover um debate mais ético e inclusivo. Uma das coordenadoras pediu desculpas, mas eu destaquei que não era só sobre desculpas – era sobre respeito, informação e dignidade.

A Nossa Voz Foi Ouvida

Depois disso, começamos nossa palestra. Aos poucos, mais pessoas foram chegando. O auditório lotou. E ali aconteceu algo mágico: entregamos uma fala potente, revolucionária e emocionante. As pessoas aplaudiram de pé. Foi um momento que nunca vou esquecer.

Toda a luta para ocupar aquele espaço fez sentido naquele instante. Foi uma prova viva de que nossas vozes importam e que é possível transformar espaços tradicionalmente excludentes em lugares de acolhimento e resistência.

Essa experiência me ensinou muito sobre persistência e sobre como é importante ocupar espaços onde nossas vozes ainda são silenciadas ou ignoradas. A luta contra a gordofobia é diária, mas momentos como esse renovam nossa força e mostram que estamos no caminho certo.

Ali, naquelas palmas e o auditório lotado tudo fez sentido, por toda luta, insistência, violência que passamos para ocupar aquele espaço, aquela fala, aquele encontro!

 

Disciplina Corpas Gordas: UEL

Disciplina Corpas Gordas: gordofobia, resistências e ativismos, para o PPGCom na Universidade Estadual de Londrina – UEL

Uma Semana de Afetos e Resistências: Corpas Gordas na Pós-Graduação

Setembro de 2024 chegou, trazendo com o calor e a seca típicos dessa época em Londrina, uma vivência que deixou uma marca significativa na minha caminhada como professora e pesquisadora. Desde 2023, atuo como docente colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, na Linha de Pesquisa Colonialidades e Comunicação, mas foi a primeira oportunidade de oferecer uma disciplina no PPG centrada nas corporalidades gordas: Corpas Gordas: Gordofobia, Resistências e Ativismos.

E que jornada intensa foi essa!

Com cerca de 35 participantes ocupando a sala, tivemos representatividade de diversas áreas do conhecimento, como Comunicação, Ciências Sociais, Psicologia, Pedagogia, Artes Cênicas, Saúde Coletiva, Nutrição e pessoas envolvidas em movimentos sociais. A pluralidade de vivências e perspectivas deu ainda mais profundidade aos encontros. Vale destacar que pelo menos 10 alunos eram pessoas gordas, o que proporcionou debates ainda mais significativos, lembrando que nossas corpAs são, antes de tudo, políticas.

A semana começou com intensidade já na segunda-feira. Uma aula repleta de movimento e sentimentos nos convidou a dançar, cantar e refletir sobre um questionamento primordial: “Tem gordofobia aí?”. A conexão instaurada entre corpo e grupo nesse momento foi memorável. Na terça-feira, mergulhamos de cabeça nas Epistemologias Engorduradas, considerando questões como a descolonização da saúde, das corpAs, das nossas pesquisas e da própria academia.

A quarta-feira foi um dia emblemático, com uma roda de troca capitaneada por quatro mulheres excepcionais que pesquisam corporalidades gordas no Brasil. Caroline Silva Marcelino minha amiga desorientanda nos trouxe suas reflexões sobre os encontros gordEs organizados pelo país e mundo afora; Bruna Lavandoski Mendroni que é da psicologia Social apresentou as nuances de sua investigação sobre o impacto das comédias românticas na vida de mulheres gordas; Suyanne Héria Vieira de Souzado Serviço Social abordou a conjuntura entre racismo, gordofobia e políticas públicas; e Eva Monteiro das artes Cênicas compartilhou sua experiência na pesquisa sobre a representação do corpo gordo no teatro. Essas intervenções ampliaram demais os horizontes e foram inspiradoras.

Na quinta-feira, retomamos a temática das epistemologias engorduradas, desafiando paradigmas e refletindo sobre a importância de trocar o discurso de combate pelo reconhecimento das corporalidades gordas. Já a sexta-feira trouxe um encerramento cheio de afeto: um exercício envolvendo o pensar com a corpA e o ato de engordurar a escrita. Ver cada aluno compartilhar os impactos pessoais dessa jornada foi comovente. Para finalizar com alegria e celebração, nos reunimos em um boteco, para festejar nas interseções entre saberes e afeições cultivados ao longo da semana.

Cansada? Sem dúvida. Mas saí plena e grata. Essa experiência fortaleceu minha convicção no poder transformador dos Estudos do Corpo Gordo. Quando alteramos a visão sobre as corporalidades, revisamos também o desejo de construir novas formas de estar no mundo. 

Que venham outras semanas potentes como essa! 💜

Curso de extensão Corpas gordas: gordofobia, resistências e ativismos, na rede EICOS – UFRJ

Curso de extensão Corpas gordas: gordofobia, resistências e ativismos, na rede EICOS – UFRJ no youtube, atividade do meu pós doutorado  em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – Instituto de Psicologia – UFRJ

Corpas Gordas: Resistências e Ativismos – Uma Jornada para Mudar paradigmas

Em agosto de 2022, tive a enriquecedora oportunidade de ministrar um curso que marcou profundamente meu período de pós-doutorado: **”Corpas Gordas: Gordofobia, Resistências e Ativismos”**. O grande interesse pelo tema nos levou a expandir seu alcance, transformando-o em um curso de extensão disponibilizado no YouTube, sem limite de participantes ou necessidade de inscrição. Essa decisão não poderia ter sido mais acertada, pois tornou acessível a muitas pessoas uma discussão crucial.

A proposta do curso nasceu da necessidade de questionar os imaginários socioculturais em torno de corpas gordas e de examinar como o discurso biomédico e os veículos midiáticos ajudam a perpetuar preconceitos profundos. Desde cedo, crescemos com a ideia de que magreza representa saúde e de que corpos gordos são associados à doença, à negligência ou à infelicidade. Esses olhares reducionistas fortalecem a gordofobia e validam violências, tanto físicas quanto emocionais, direcionadas a pessoas gordas.

No curso, buscamos desfazer essas concepções excludentes. Com base nos aportes trazidos pela **Pesquisa Gorda – Estudos Transdisciplinares das Corporalidades Gordas**, abordamos uma gama de temas, incluindo estigmatização, medicalização do corpo, dissidências corporais, racismo, capacitismo, homofobia, transfobia e a persistente saúde colonizadora. Provocamos o rompimento com paradigmas binários que categorizam os corpos entre saudáveis e doentes ou normais e anormais, trazendo reflexões plurais sobre as complexas vivências da pessoa gorda.

Durante oito encontros, especialistas, pesquisadoras e ativistas gordes contribuíram imensamente com narrativas únicas que ampliaram o debate. Cada aula foi um convite a explorar de forma mais atenta como os preconceitos estruturais criam desigualdades, desumanizam e cerceiam o pleno exercício da cidadania dos corpos marginalizados. Paralelamente, discutimos também as estratégias de resistência e luta que corpos gordos constroem para reivindicar seu espaço e imaginar um novo mundo possível.

O impacto foi transformador! O curso proporcionou discussões significativas, recheadas de perguntas profundas, conversas instigantes e aprendizados duradouros ainda repercutidos hoje. E graças à sua presença online, aos interessados basta acessar o canal do YouTube para mergulhar nesse campo de estudo poderoso e provocador.

Mais do que um espaço acadêmico, este curso se transformou em um ato coletivo de resistência. Ele comprova que debater sobre corporalidades gordas vai além de preocupações com saúde ou estética: é abrir um caminho por respeito, direitos humanos e dignidade. Que sigamos juntos recriando perspectivas e consolidando práticas que tornem o mundo mais justo e acolhedor para todas as corpas existentes.

Se você ainda não acompanhou o curso, o convite fica registrado aqui para que você explore os conteúdos disponíveis e permita-se questionar e refletir. As corpas humanas carregam trajetórias singulares, força e beleza – todas igualmente merecedoras de respeito e valorização.

 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=C0ewchAC-Xc&list=PLUcoOpWMGYCLlRy6Wgl9L4Yz1wliV0j79

Congresso da Pesquisa Gorda

Congresso da Pesquisa Gorda: estudo, arte e ativismo aconteceu online como atividade do meu pós doutorado  em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – Instituto de Psicologia – UFRJ

**I Congresso Pesquisa Gorda: Um Marco na Luta Contra a Gordofobia**

Setembro de 2022 foi cenário de um feito histórico e revolucionário para os Estudos das Corporalidades Gordas no Brasil e na América Latina. O I Congresso Pesquisa Gorda: Ativismo, Estudo e Arte conectou pesquisadoras, ativistas e artistas em um evento totalmente virtual que inaugurou uma rede nacional dedicada ao debate crítico, político e reflexivo sobre o tema. Durante três dias intensos, entre 8 e 10 de setembro, conhecimento, arte e resistência caminharam juntos no enfrentamento à gordofobia.

Promovido pelo grupo **PESQUISA GORDA**, coordenado pela filósofa e pesquisadora Malu Jimenez, o evento contou com mais de 200 inscrições e a apresentação de 60 trabalhos, consolidando-se como um espaço dinâmico e interdisciplinar. Além disso, essa iniciativa teve a honra de receber contribuições internacionais vindas do México e da Argentina, fortalecendo as trocas com nuestras vecinas latino-americanas. A programação foi variada, mesclando mesas de discussão, grupos de trabalhos e até um show inesquecível do Rap Plus Size no encerramento.

A grande missão do congresso foi impulsionar a consolidação dos Estudos das Corporalidades Gordas como um campo acadêmico legítimo, necessário e urgente. Essa área não só vislumbra ressignificar discursos estruturais preconceituosos como também promove a despatologização dos corpos gordos e a garantia de direitos e cidadania plena para essas pessoas. Trata-se de um projeto que atravessa as esferas acadêmicas e reverbera nas artes e no ativismo, afetando positivamente a sociedade.

A escolha do mês de setembro para a realização do evento foi carregada de simbolismo. Reconhecido como o mês da luta antigordofobia, trouxe ainda mais sentido para o encontro, amplificando a visibilidade dessas questões e evidenciando a necessidade de combater as violências e violações de direitos vivenciadas por pessoas gordas. A articulação entre pesquisa, ativismo e arte expandiu fronteiras, fomentando diálogos fortes e revigorantes.

Embora tenha enfrentado alguns desafios logísticos, o evento foi consagrado como um enorme sucesso. O apoio de diversos grupos de pesquisa e de universidades ao redor do país foi essencial para que a realização fosse impecável. Os ecos do congresso continuam pulsando, alimentando debates no meio acadêmico e nos movimentos sociais, gerando articulações e energizando a luta coletiva contra a gordofobia.

Apesar de ainda não termos concretizado uma sequência imediata, manter viva essa iniciativa é nosso compromisso. O sonho de um segundo congresso ainda maior, mais inclusivo e transformador continua pulsando. Sabemos que em uma jornada pela dignidade e respeito cada passo tem um significado imenso.

Nossa gratidão a cada pessoa que esteve envolvida direta ou indiretamente no I Congresso Pesquisa Gorda. Vocês integraram um movimento inspirador que já está promovendo mudanças e ampliando horizontes. 

Seguimos juntes  na (re)existência! 

Links para consultar:

Congresso: https://www.even3.com.br/congressopesquisagorda2022/

Pesquisa Gorda: https://www.instagram.com/pesquisagorda/

Anais: https://www.even3.com.br/anais/congressopesquisagorda2022/

Lute como uma gorda é um blog criado pela Profa. Dra. Malu Jimenez, ativista e pesquisadora do corpo gordo. Aqui reunimos e potencializamos conteúdos sobre este tema, a fim de construir, conectar e formar pessoas que se interessem pela causa.

Explore o Universo Malu:

Cursos e Livros para sua Jornada de conhecimento!

Este livro é resultado de sua pesquisa que teve origem em sua tese de doutorado, a qual propõe análises teóricas para investigar a estigmatização institucionalizada sob a qual os corpos gordos são colocados. Lute como uma gorda está disponível para venda e comprando por aqui você recebe uma dedicatória especial da autora