
Mulheres fortes e exaustas!
Esse fim de ano de 2019 eu terminei exaustamente exausta, tanto mentalmente como meu corpo pedia através de dores e muito cansaço para que eu parasse de fazer coisas. Assim que acabei a tese, senti um peso em mim que já não dava mais para seguir sem falar sobre todo esse sentimento e cansaço que eu estava vivendo.
Pensei em muitas coisas que eu tinha feito naquele ano, e minhas deusas, eram tantas coisas, tantos perrengues, tantas lutas, tantas escrituras, viagens, discussões, perseguições, comecei a chorar de cansaço, de perceber que tinha trabalhado exaustivamente e não tinha dinheiro para pagar meu aluguel se eu não inventasse alguma coisa rapidamente.

No final vi que está tudo misturado, trabalho, ativismo, meu corpo gordo feminino, feminista, anarquista, sul realista, rsrsrsrs, as vezes não dá para separar: eu vivo o que eu acredito, estudo, falo e luto, mas eu sou mais que tudo isso, muito mais, eu pago aluguel, tenho que comer, vestir, calçar, ir e vir, estudar, ler, falar, viver, amar…
O mundo tem sido muito cruel conosco, mulheres “fortes”, estamos adoecendo porque as pessoas confundem fortaleza com abandono, quem é que apoia essas mulheres? É sobre isso que proponho a reflexão nesse texto, as mulheres fortes que você elogia e acha foda, está exausta.
Conversando com uma amiga que também se sentia assim, percebemos que existe uma necessidade de falar sobre isso, porque a gente é forte, não necessitamos de cuidados, apoio, ajuda? Não é bem assim não, muito pelo contrário, essas mulheres necessitam em dobro o nosso cuidado, carinho, apoio e ajuda, elas estão liderando lutas pesadíssimas, fazem trabalhos exaustivos todos os dias, horas e momentos de sua vida e na maioria das vezes não ganham pra isso.

Porque ser ativista e vestir essa camisa na vida, é isso você tá no mercadinho comprando o almoço e a caixa tá falando de regime, você tá no barzinho com seus amigos e eles estão falando de como engordaram no natal, é o tempo todo a toda hora uma luta, não tem descanso se você não perceber isso a tempo e criar uma rede de amigas e apoio, adoece…
E rede de apoio demora para ser formada, tem muito mais gente pra julgar seu trabalho que pra te dar afeto e poio, isso é sentido nas entranhas da carne de toda mulher forte e exausta, é só perguntar que ela conta.
Incrível que as pessoas não percebem, você pede ajuda e elas propõem um novo trabalho, de graça de preferência, já que você é ativista não precisa de dinheiro, é uma confusão enorme, ainda existem as que te acompanham e te chamam para dizer o que você pode ou não fazer no SEU ativismo, como se houvesse um termômetro, um manual, uma só maneira de lutar… Situo-lhes informar, que isso não existe, faz sua parte e respeita as outras lutas… Isso também é sororidade, gordoridade, empatia, ou como você queira chamar!

Respeita o trampo duro da outra mana, se coloca no lugar dela, que mais que julgamento ela pode estar precisando de um elogio, uma força, um carinho em palavras. Na verdade, fiquei pensando que isso também é uma violência, pensa comigo, todas as mulheres que assumem uma luta são muito criticadas e anuladas e vigiadas e julgadas, etc…
Conversei com algumas mulheres que se sentem assim, fortes e exaustas de tanta pedrada, de tanta falta de noção e afeto … Esse fim de ano o que mais ouvi foi, estou cansada de ser ativista é muita decepção e sofrimento, estou desiludida …. Pelo amor das deusas tem alguma coisa muito errada aqui… PAREM PENSEM E MUDEM!
Não sei bem se era ela, mas acredito que sim, Simone de Beauvoir pontuou como outras que vieram antes de nós, que é necessário uma crítica ao que se faz, um olhar mais profundo ao que se propõe, onde está isso? Aproveitemos o começo do ano para pensar sobre isso… Vamos lá:
– Quantas mulheres fortes você ofereceu ajuda no ano de 2019?
– Quantas mulheres fortes você deu sua mão, ouvido em 2019?
– Quantas mulheres fortes você ofereceu um café, uma cerveja em 2019?
– Quantas mulheres fortes você ofereceu um trabalho em 2019?
– Se você é a mulher forte, conversou com alguém sobre sua exaustão?
Talvez o que falte, é a proposta da reflexão sobre nosso papel no feminismo, na nossa rede de mulheres, de apoio, de proteção, e… não vale escolher algumas, e outras você não estar nem aí… Veja, esse pensamento não tem nada haver com vitimismo, não é isso. A proposta aqui, é juntar os cacos e se refazer, porque a luta continua.

O patriarcado colonial se alimenta dessa exaustão, é necessário pra que mulheres fortes desistam, morram, se anulem na luta, quem é que cuida dessas mulheres fortes e exaustas? Nós? Como?
A Re (existência) nesse mundo por uma luta diária precisa ter apoio, mas também precisa ser cuidada, não tem nada de errado ao invés de você, o tempo todo pedir ajuda, também dar ajuda, doar seu tempo para essas manas que estão a frente, dividir o peso, as angústias, os ataques, isso é feminismo.
Mulheres fortes estão exaustas, precisamos pensar na sobrevivência de cada uma delas, não só daquela que sai na tv, tem milhões de seguidoras, talvez essas estejam menos exaustas que aquelas que lutam, trabalham muitíssimo e no final do mês não conseguem pagar seu aluguel, comprar um livro.

Ajudem mulheres fortes, mulheres fodas para que não fiquem exaustas, a revolução será feminista ou não será, se essas mulheres estiverem na linha de frente bem e não exaustas!
Obs: Esse texto foi escrito para TODAS FRIDAS em 2019.
GORDOFOBIA NA ESCOLA: LUTE COMO UMA GORDINHA!
Ontem uma mãe gorda de gêmeas me mandou um e-mail contando com muita dor, sofrimento, e sem saber o que fazer, numa situação de gordofobia aos corpos gordos de suas filhas de 4 anos na escola.
“Preciso de ajuda! Minhas filhas chegam da escola tristes, chorando e não querem conversar sobre o que aconteceu, isso já está acontecendo a algumas semanas, mas ontem a Bia me disse: – mamãe a gente precisa fazer regime, comer menos, emagrecer. Já vinha notando a dificuldade delas na hora de comer, antes da escola comiam bem, hoje é um momento tenso, ruim. Não sei o que fazer, fui na escola e a coordenadora me disse que não aconteceu nada na escola, mas que eu deveria começar um regime, emagrecer e dar o exemplo para minhas filhas de como se cuidar. Eu sou mãe solo, cuido dessas meninas, da casa, e de tudo mais sozinha, sou trabalhadora, feminista, mas nunca imaginei que ia estar passando por isso com minhas filhas com 4 anos, você pode me ajudar?” (ANA, 36 anos).

Esse não foi o primeiro, e nem será o último depoimento de mães assustadas com a gordofobia que seus filhos sofrem na escola, tenho ouvido com uma certa frequência histórias de dor e sofrimento com meninas cada vez menores.
A discriminação e exclusão pelas diferenças sempre existiu dentro das Instituições de Ensino, contudo têm emergido de forma nunca antes visto, com meninas na primeira infância, uma intolerância ao corpo gordo e têm tomado proporções devastadoras na formação dessas crianças, quanto se exige desde muito cedo, um corpo que não se tem: o corpo magro.
Por essa e outras questões de importância comum, entre pesquisadores, professores e instituições educacionais levantar a discussão sobre a estigmatização dos corpos gordos dentro dos espaços educacionais se faz urgente, necessário e efetivo.
Sabemos que esta estigmatização é estrutural e cultural, transmitida em muitos e diversos espaços e contextos sociais na sociedade contemporânea. Esse prejulgamento acontece com a desvalorização, humilhação, inferiorização, ofensas e restrições aos corpos gordos de modo geral.

Provocar a reflexão sobre a estigmatização com os corpos gordos pelo corpo docente e comunidade escolar, se propõe focar o entendimento que um lugar que as mães entendem como seguro: a escola, não tem cumprido com esse papel da tolerância e respeito aos direitos humanos, já que se está naturalizando um tratamento estigmatizador desde a infância com crianças, tendo continuidade na adolescência e fase adulta com pessoas gordas.
Desde criança, aprendemos em casa com a família e depois nas escolas que o corpo belo e saudável, é o corpo magro. Infelizmente, o corpo gordo nas Instituições de Ensino seguem a Gordofobia estrutural e, portanto repete a exclusão e estigmatiza a criança/adolescente/adulto gordo, causando fobias, medos, traumas, bulliyng e suicídios. Os profissionais da educação repetem a estigmatização, e de maneira geral não sabem lidar com o preconceito, culpando na maioria das vezes a própria vítima.
A estigmatização e exclusão do corpo gordo na escola está presente desde cedo, porque a escola não tem cumprido o seu papel de transgressão do pensamento hegemônico, parece que esse papel fica na responsabilidade da educação superior, já que se “acredita” que pensamento crítico e discussão sobre respeito a diversidade, direitos humanos é coisa de “comunista” e de humanas.

Não estamos preparados para uma educação inclusiva, mas não assumimos esse despreparo, se fala de uma escola inclusiva, mas não se inclui. Infelizmente, essa é a realidade brasileira, e quem sabe, mundial.
Basta olharmos para a falta de acessibilidade nesses espaços, os uniformes, cadeiras, banheiros, escadas. Se faz uma encenação de escola inclusiva, mas na verdade estamos cada vez mais cruéis com a diferença; e a violência dentro das escolas mostra isso.
Quais são as formações dessas professoras e professores desde o ensino infantil sobre corpos dissidentes, diversidade e exclusão social? Me parece inexistente. Todos sabemos dessa situação, basta dar uma volta na sala dos professores que vemos e ouvimos o despreparo de muitos deles no quesito do acolhimento.

Talvez, o resultado da última eleição nos mostre o que estamos construindo, uma sociedade extremamente cruel, ignorante e algoz. Assim, não é de assustar que crianças de 3, 4 anos de idade já pensem em regime, exercícios, emagrecer e sofram com toda essa imposição que começa a emergir substancialmente na formação de seres humanos, no espaço central dessa construção que é o lugar de ensino, o que está acontecendo dentro dessas escolas?
O resultado de uma formação baseada no preconceito e exclusão ao diferente, nos mostra que a gordofobia está na escola, como a escola está para a gordofobia.
Vemos uma crescente preocupação com alimentação saudável, sedentarismo, e todo esse mercado do emagrecimento impulsionando nossas crianças em obcecados pela magreza, mas nunca se vê projetos e trabalhos voltados a corpos que não são os normatizados, não vejo palestras sobre gordofobia, muito menos a temática na formação dos professores que estão contaminados por essa maneira de estar no mundo: MAGRA.
Quero usar este texto para chamar a atenção de todes os envolvidos em educação, infantil, fundamental, médio e superior, na formação de professores e seja lá quem você for para uma formação menos gordofóbica, provocando essa discussão, pesquisando, lendo, indo a uma palestra, roda de conversa sobre a temática.
Se essa pauta não for levantada a tempo para discussão e transformação dentro do espaço educacional, veremos nossas crianças, adolescentes e adultos se suicidando com muito mais frequência que a mídia tem nos mostrado.

Vejam o caso que foi muito comentado em 2017, mas logo entrou no esquecimento, da adolescente Dielly Santos de 17 anos, que se suicidou na escola em que estudava, em Icoaraci, no Pará. A estudante foi encontrada morta no banheiro. “Enforcamento”, apontam os laudos policiais. De acordo com a família da jovem, Dielly era vítima de gordofobia, e constantemente chamada de “lixo” e “porca imunda” pelos colegas, que gargalhavam após proferir tais ofensas.
O caso é tão sério, que mesmo depois da morte dessa menina, os comentários que seguiam a notícia eram para no mínimo acontecer uma intervenção educacional dentro das escolas, discursos de ódio imanente bate as nossas vidas e o Estado que tem como proposta única nos proteger, colabora com ele.
Proponho que repensemos o papel da educação a partir da igualdade que Paulo Freire levanta em seus estudos, quando aponta em sua obra Pedagogia da Autonomia que “ninguém é superior a ninguém”. Essa afirmação surge de um contexto quanto é importante na relação educadores e educandos estarem numa relação de igualdade, e que todos estejam atentos ao que o outro pensa e sente, uma escuta atenta ao outro.
Para o filósofo “aceitar e respeitar a diferença” é uma condição essencial para o respeito da diversidade, entender e respeitar o outro corpo que não é magro também se faz nesse exercício de respeito. Como ninguém é superior a ninguém, nenhum corpo também se faz superior a outro, pelo outro corpo não ser como se acha que deve estar.

Assim, a igualdade de todos os corpos dentro da escola, se faz uma parte da prática educacional como condição política e condicional para que essa diversidade de corpos sejam enriquecedoras e não aniquiladoras, e essa condição é um direito garantido constitucionalmente.
Dessa maneira, espero que você leitor ou leitora se atente a questão dos corpos diversos e exija o respeito a eles, seja você educador, aluno, família, comunidade, ser espeitado com nossas diferenças é um direito e ninguém pode nos tirar isso. Existimos e resistimos!
Proponha em seu espaço debates sobre a gordofobia é de importância emancipadora para nossa sociedade do ódio e exclusão imanente.
PARA CONSULTAR:
– FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2017.
– JIMENEZ-JIMENEZ, Maria Luisa. Gordofobia: uma questão de perda de direitos, 2018. (Blog/Facebook). Disponível em: http://www.todasfridas.com.br/2018/03/11/gordofobia-uma-questao-de-perdaa-de-direitos/
-JIMENEZ-JIMENEZ, Maria Luisa. Gordofobia Médica: A reprodução do Estigma Social, 2018. (Blog/Facebook). Disponível em: http://www.todasfridas.com.br/2018/07/23/gordofobia-medica-a-reproducao-do-estigma-social/
– HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, 2017.
Obs: Esse texto foi publicado em 2019.
Pelo Direito a Não querer emagrecer e Ser GORDA!
RESPEITO AOS CORPOS DIFERENTES!
Ser GORDA em nossa sociedade tem sido cada vez mais uma luta por direito de existir, se aceitar Gorda. Acaba-se levantando uma bandeira pelo existir do jeito que se é. Se você é GORDA e está fazendo regime, malhando e sofrendo muito, tudo bem, isso pode, mas ser GORDA e não querer fazer regime, nem emagrecer isso é abominável no mundo atual.
Em nome de TODAS AS GORDAS NO MUNDO que não querem mais entrar nessa cilada escrevo este texto.

Existem legiões da magreza do corpo que irão humilhar perseguir, excluir até que você queira “tomar uma medida”, geralmente em nome da saúde pessoas passam fome, machucam ou mutilam seus corpos para satisfazer e serem aceitas no grupo social, acredita-se que auto estima vem de fora, e querida acredite isso é uma cilada e você vai entrar em colapso, porque autoestima de fora pra dentro é mentirosa, não são as pessoas que devem gostar de você, muito pelo contrário é você que deve se olhar no espelho se ver fora do padrão e estar tudo bem, porque seu corpo tem história, é o único que você tem e ele merece respeito.
Essa legião de caçadores aos corpos gordos é extensa e nefasta, geralmente começa na família, e desde pequena se é ensinado que para sermos amadas devemos ter o corpo magro, custe o que custar, depois na adolescência se exige um padrão maluco de corpo e alma e continua valendo tudo para se encaixar: tomar remédios, malhação, jejum, vomitar, seja o que for. Na vida adulta é onde as paranóias de uma vida toda, focada em ser magra se caracterizam em depressão, dor, tristeza, chegando a acreditar que vale a pena qualquer coisa para emagrecer e que depois dessa conquista seus problemas acabarão, SQN apenas começarão.

Pensando nessa condição, na qual temos que fazer regime e estar magra, cobrança essa justificada pela saúde, para casar, arrumar namorado, entrar nas calças apertadas, usar biquíni na praia, caber numa cadeira, entre outros milhões…
Somos massacradas por essa ideia desde que nascemos, já que geralmente nossas mães, logo que nascemos querem emagrecer e voltar ao corpo que tinham antes de nosso nascimento, nem chegamos ao mundo e o ser que a gente mais depende já está preocupado em emagrecer, que sentimento é esse que nos é passado desde que damos a nossa primeira mamada: alívio pelo parto, amor pelo filho, mas muita insegurança pelo corpo que mudou, inchou e cresceu.
O que é fato, “natural”, trata-se como abominação, cada vez mais frequente vermos gestantes em academias, dietas, inúmeras matérias, dicas e produtos de como ser uma grávida saudável e fitness, perfis no istagram bombam o passo a passo de mulheres gestantes pegando pesado na malhação.
O pavor de engordar na gestação leva muitas mulheres a fazerem qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, e sempre disfarçada pela preocupação à saúde, sustentado pelo discurso saudável para não engordar nem na gravidez.
O entendimento midiático normatizado de saudável pelo discurso médico, não considera a subjetividade, as histórias de vida, os afetos, as relações familiares, ou seja as dimensões culturais locais, nota-se que no cenário econômico/político mundial a busca pelo corpo saudável caminha na contramão do que pode se considerar saúde.

O filósofo médico francês Georges Canguilhem em 1982 escreveu o livro questionando a concepção de O normal e o patológico, para o autor existe um modelo reducionista, mecanicista e generalizador da Biomedicina que deve ser questionado. Os conceitos de doença e normalidade, patologia e anormalidade devem estar ligados entre o organismo e seu ambiente, essa análise deve ser marcada por construções e valores sociais. Assim que, o saudável, o normal não pode ser definido através de uma média aritmética, ou uma conta como o IMC (Índice de Massa Corporal), muito menos de um tipo ideal, padrão na maioria das análises que existem na área da saúde.
Dessa maneira, Canguilhem explica que o adoecimento não é um fenômeno puramente objetivo e biológico, já que o que acaba sendo considerado normal ou patológico está carregado por uma imensa carga de subjetividade. Resumindo, para o médico filósofo o conceito de saúde deve ter uma dimensão muito mais ampla do que das classificações por cálculos e/ou generalizações preconceituosas.
Outro filósofo que questiona essa concepção do doente e saudável no discurso médico é Michel Foucault (1962-1984) quando em sua obra “O nascimento da clínica” sobre a constituição dos saberes da Medicina, para o autor acaba acontecendo uma substituição sobre a forma de entender, ou olhar a “arte de curar” por uma focalização na doença do corpo. Acaba acontecendo um afastamento do entendimento sensível, da subjetividade, dos seus afetos, histórias e seu processo de adoecimento por uma valorização de um modelo de identificação geral, localizado e classificatório por cada doença. Para o autor, o que existe no Mundo ocidente é a medicina da doença e do doente.

Naomi Wolf explica em seu livro “O Mito da Beleza” é como uma religião, estamos obcecadas e acreditamos fielmente que o corpo magro deve ser conquistado a qualquer custo.
A autora explica no capítulo A Religião, que “A cultura moderna reprime o apetite oral da mulher da mesma forma que a cultura vitoriana, através dos médicos, reprimia o apetite sexual feminino (…). O estado de sua gordura, como no passado o estado de seu hímen, é uma preocupação da comunidade. “Oremos por nossa irmã” se transformou em “Nós todos vamos incentivá-la a perder esse excesso de peso.”
Acaba faltando um questionamento sobre que rumo estamos tomando nessa questão de camuflar obsessão e preconceito com corpos que não estejam no PADRÃO SAUDÁVEL por preocupação com a saúde de corpos que cansaram de seguir esse discurso que causa dor e incompreensão.
Já que estar feliz com o próprio corpo, entender que ninguém é igual a ninguém e que corpo não existe só um tipo: o magro, saúde não tem necessariamente haver com um corpo magro e malhado que passa na TV, aliás, muito pelo contrário, o corpo nesse sentido é vendido igual um carro, objeto, mercadoria.
Estar bem consigo mesmo é o princípio de estar saudável. Assim que venho nesse texto propor a reflexão que as pessoas podem estar GORDAS e não quererem emagrecer por inúmeros motivos: já tentou milhões de vezes e não conseguiu ou porque gosta de si como é, porque tem saúde e, principalmente por que precisa escolher entre ser feliz com o que se é, ou já se sentiu infeliz buscando produzir um corpo quase impossível para ser aprovada socialmente.
Exatamente isso ou talvez não, porque simplesmente não quer fazer regime, se sente bem com o corpo que tem, ou tem preguiça de seguir esses padrões da moda. Isso nem interessa muito, acho que o mais desumano nisso tudo é a imposição que se faz com os corpos diferentes.
E repetir essa imposição aos outros que não tem um corpo magro é preconceito e tem nome. A gordofobia mata, humilha, e está nas pequenas insinuações, gestos e situações que muitas vezes repetimos sem perceber. Falar pra alguém da família no Natal não comer tanto, ou para a amiga que tem um rosto lindo, ou que carboidrato é do mal na frente da amiga comendo um lanche, me parece que não cabe num mundo que grita por liberdade e diversidade. Cuidar do corpo alheio é tão prejudicial quanto empurrar uma velhinha da escada.
Porque é isso que se faz quando se é gordofóbico e não aceita o corpo GORDA, empurrar essa pessoa ao estigma de exclusão, vexamento e tristeza que muitos passam e/ou já passaram. Isso é crueldade! E que fique claro, que ninguém pode se sentir superior ao outro porque tem um corpo mais magro, malhado ou sei lá por que.

Existe a necessidade de dar um basta nessa caça as gorduras em nossa sociedade, é repetir uma imposição comercial que gera lucros milionários a empresas que a maioria das pessoas nem sabem que existem.
Não podemos ser ingênuas e consetir com essa maneira de entender os corpos no mundo, repetindo estigmas e colocando pessoas a beira de suicídios e vidas de tristeza e medo. Não dá mais!
Tente começar por você e seja solidário ao diferente ao seu lado, cuide que esse corpo diferente seja acolhido e amado como todos os outros… Mude o seu entorno e estará mudando muitas vidas… Quando ver uma pessoa GORDA não cabendo numa cadeira ou banco, roupa não ria disso, pois não é engraçado, ajude com um olhar, ou mesmo mande um pensamento de apoio.
A gordura ainda é vista no meio de pessoas que se consideram “críticas socialmente” como algo repugnante, luta contra racismo e homofobia, machismo, mas dá risada de GORDA na rua em espaços públicos. PARE! Não é legal.
Pense em você e em seu corpo, pense na dificuldade que é se amar mesmo sendo magra, imagine o outro que não é. Tenha sororidade e ajude aos corpos dissidentes periféricos e suas lutas em existir, porque é isso que uma mulher GORDA faz quando não quer emagrecer, fazer uma bariátrica ou começar mais um regime da moda: EXISTIR.
Quando falamos de Resistência e ninguém solta a mão de ninguém, é exatamente disso que estamos falando, desses corpos que são excluídos e mal tratados pelo simples fato de não se encaixar naquilo que vende.
Para Consultar
BUSS, Paulo Marchiori. Promoção da Saúde e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva, v. 5, n. 1, p.163-177. 2000.
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. 4ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense; 2004.
JIMENEZ-JIMENEZ, Maria Luisa; ABONIZIO, Juliana. 2017. Gordofobia e Ativismo gordo: o corpo feminino que rompe padrões e transforma-se em acontecimento. XXXI Congreso ALAS Asociación Latino América de Sociología, Género, Feminismos y sus aportes a las Ciencias Sociales. Movimientos sociales, acciones colectivas y participación políticas.
LAZZARATO, Maurizio. 2006. As revoluções do capitalismo: A política no império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
WOLF, Naomi. O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
Obs. texto publicado no TODAS FRIDAS em 2019.
É possível um feminismo Gordo?
“Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas”. Escolhi esse pensamento de Audre Lord para iniciar nossa reflexão nesse texto sobre a pergunta/título que proponho para pensarmos juntes: É possível um feminismo gordo?
Olhar hoje para o movimento feminista, é entender que existem muitos feminismos, com muitas pautas, realidades e subjetividades distintas. Movimento este, percebido por mim como construção de saber e proposta para um mundo onde as mulheres não sejam inferiores aos homens é, está, ou deveria estar em concordância entre todas nós, porque é de opressão que estamos falando, é de violência de muitas maneiras, mas é de agressões e ódios a todas as mulheres nesse sistema cisheteronormativocolonial que me refiro.
Entendo essa liberdade que Audre Lord nos propõe a pensar como a liberdade dessas opressões violentas sistêmicas. Com certeza que os recortes sociais marcam mais violência, e é exatamente por isso que gosto de pensar em muitos feminismos, no sentido de frentes e pautas. Somos diversas e nossas reinvindicações e lutas também, mesmo quem ainda não se autodenomine feminista, já que a luta pela causa feminina ultrapassa a própria história do movimento, já que se pensarmos nas mulheres que queimaram em fogueiras pela inquisição já eram feministas sem mesmo nomear, o que quero dizer é que existem muitas mulheres e grupos envolvides pela emancipação feminina.

Existe construção de novos saberes pulsando dentro e fora dos coletivos e mulheres que se autodenominam feministas, existe propostas e lutas que caminham juntas e não separadas. Tenho visto que não é preciso se autodenominar feminista para lutar pela participação de mulheres na política, sobre a autonomia de nossos corpos, contra a violência estrutural a nossas mães, avós, bisavós, filhas, etc. Isso não quer dizer que se autodenominar também não seja político, já que o feminismo é um posicionamento político, de (re)existência.
Renata Aspis explica que (re)existir é um “constante movimento de afirmar a vida que nos está sendo constantemente subtraída. (Re)existir, insistir em existir, conjurar a formação do Estado no pensamento, tornar o pensamento uma máquina de guerra.”
Dessa maneira, volto lá na afirmação de Audre Lorde no começo do texto: “Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas”, a gordofobia é violência de gênero, é violência estrutural, as correntes que as mulheres gordas carregam precisam ser levantadas, conhecidas, conversadas entre todas nós.
Posto que mulheres gordas sofrem gordofobia todos os dias, muitas vezes ao dia, como forma de sobrevivência existe uma necessidade de transformar a dor em algo, muitas vezes em mais dor. Contudo vivi e vi muitas experiências em que o sofrimento pode ser ressignificado em textos, lutas, reposicionamentos no mundo, coletivos, livros, eventos, arte, poesia, etc.
Aprendi com o feminismo negro e algumas ativistas gordas que é possível, necessário e revolucionário criar teorias a partir de corpos que são marcados pela dor, humilhação e exclusão, transformando todo ódio e raiva à sociedade em luta e se posicionando no mundo de outra maneira, de modo que viver seja um ato revolucionário.
A partir de nossas experiências, é possível reinventar o jeito de estar no mundo. É um processo demorado e lento, mas existem mulheres como eu, consumindo e fazendo ativismo numa nova proposta de entender seu corpo gordo em sociedade e consigo mesmas, propondo novos saberes sobre nossas corporeidades, sobre ter uma vida com mais respeito e dignidade.
Trazer esse debate como proposta de reflexão que o feminismo gordo já existe e resiste na luta diária de mulheres como eu que sofrem a gordofobia desde suas infâncias e se reinventam todos os dias para sobreviverem a tanta violência contra nossos corpos.
O feminismo gordo existe e submerge de mãos dadas ao feminismo decolonial, da subalternidade, das periferias, dos saberes locais, da subversão do imposto: negras, indígenas, gordas, maricas, trans, sujas, sudakas, defiças, lesbicas, lokas, putas, todas as que estejam a margem do que a sociedade colonial enaltece e constrói como padronização do que é ser “normal”, “bela” e “produtiva”, todo esse conjunto de idealizações que nos subalternam, e classificam modos de vida como superiores e inferiores. Nossos saberes rompem com essa lógica porque são construções de (re)existências para a sobrevivência de forma criativa ao projeto civilizatório de conquista do pensamento, do corpo, dos saberes.
Nosso feminismo enaltece as vozes esquecidas, invisibilizadas que se opuseram aos mandamentos dentro da lógica heteronormativa, que impõem um regime político tecnológico da reprodução de corpos. Em oposição, subvertemos esse raciocínio e recriamos novas propostas de saberes, registros, e outras maneiras de ser e estar no mundo, reivindicando a descolonização de nossos corpos, desejos e saberes. “Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas”. Audre Lord
Para Consultar:
Gloria Anzalduá. COMO DOMAR UMA LÍNGUA SELVAGEM. Cadernos de Letras da UFF: Dossiê: Difusão da língua portuguesa, [s. l.], n. 39, p. p.297-309, 2009. Disponível em: http://www.campogrande.ms.gov.br/semu/wp-content/uploads/sites/26/2019/10/15-anzaldua%C2%A6%C3%BC_como-domar-uma-lingua-selvagem.pdf
Renata Lima Aspis. Resistências nas sociedades de controle: um ensino de Filosofia e subversões. In: AMORIN, Antonio Carlos; GALLO, Silvio; OLIVEIRA
JR,Wenceslao Machado de Oliveira. (Org.) Conexões: Deleuze e imagem e pensamento e… Petrópolis, RJ: De Petrus; Brasília, DF: CNPQ, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pp/v21n1/v21n1a07.pdf
Luciana Maria de Aragão Ballestrin. Feminismos Subalternos. Rev. Estud. Fem. 2017. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/42560
Audre Lorde. Os usos da raiva: mulheres respondendo ao racismo, 2013. Disponível em: https://www.geledes.org.br/os-usos-da-raiva-mulheres-respondendo-ao-racismo/
María Lugones. Colonialidad y género. In: YALA, Abya. Tejiendo de otro modo: Feminismo, epistemología y apuestas descoloniales. [S. l.]: Editorial Universidad del Cauca, 2014. cap. 1. Debates sobre colonialidad del género y (hetero) patriarcado. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/298427007_Tejiendo_de_otro_modo_Feminismo_epistemologia_y_apuestas_descoloniales_en_Abya_Yala
Maria Luisa Jimenez Jimenez. Mulheres Gordas numa sociedade lipofóbica, merecem a sororidade de todas e todes, 2018. (Blog/Facebook). Disponível em: https://www.todasfridas.com.br/2018/07/02/mulheres-gordas-numa-sociedade-lipofobica-merecem-a-sororidade-de-todas-todos-e-todes/
Maria Luisa Jimenez Jimenez. Mulheres e saberes subalternos: por uma episteme feminina, 2018. (Blog/Facebook). Disponível em: https://www.todasfridas.com.br/2018/06/21/mulheres-e-saberes-subalternos-por-uma-episteme-feminina/
Maria Luisa Jimenez Jimenez. Lute como uma gorda: gordofobia, resistências e ativismos. 2020. Doutorado (Programa de Pós Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea – ECCO) – Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Cuiabá, MT, Brasil. Disponível em: http://lutecomoumagorda.home.blog/tese-de-doutorado-lute-como-uma-gorda-gordofobias-resistencias-e-ativismos/
Esse texto foi publicado no TODAS FRIDAS em 2020.
Gordofobia, Mercado e Representatividade da Mulher Gorda
O discurso acadêmico-científico que legitima a gordofobia
Lugar comum hoje na mídia discursos sensacionalistas apoiados em sentença acadêmica-científicas mostrarem o corpo gordo como patologia e um problema epidêmico mundial, como aconteceu com a lepra, a AIDS, etc.
Estudos realizados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que, em todo o mundo, há 2,1 bilhões de pessoas acima do peso, o que representa quase 30% da população. O aumento de pessoas consideradas obesas, pelo cálculo IMC (Índice de Massa Corporal) nas últimas três décadas ocorreu em todas as regiões do mundo, considerado como problema de saúde pública em países ricos e pobres. “A obesidade afeta pessoas de todas as idades e renda”, diz Christopher Murray, diretor do IHME (Institute for Health Metric sand Evaluation). “Nas últimas três décadas, nenhum país teve sucesso na redução de suas taxas. O problema deve crescer nos países pobres, se medidas urgentes não forem tomadas para combater essa crise de saúde pública.” (MURRAY, 2014).

Outro estudo publicado na revista científica Lancet mostra que um quinto da população brasileira adulta, ou quase 30 milhões de pessoas, é considerada obesa pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ou seja um quinto da população brasileira adulta, ou quase 30 milhões de pessoas. O número é maior entre as mulheres: 23% delas, ou 18 milhões, em 2014. Entre os homens, o índice é de 17% (11,9 milhões). (MURRAY, 2014).

É uma caça aos corpos gordos, a população de modo geral se assusta com tantas noticias que acusa pessoas acima do peso de estarem doentes, e pior, que como epidemia, todos correm o risco de se tornarem como eles: gordos, feios e doentes. Esse discurso apóia o estigma criado com os corpos gordos em nossa sociedade contemporânea.
Esse discurso é tão perigoso que acaba se estendendo para todos os espaços sociais, além da mídia, hospitais e consultas, percebemos com a falta de acesso a esse corpo na sociedade com a falta de cadeiras maiores em espaços públicos e privados, nas escolas, família, indústria alimentar, mercado em geral e claro na moda.
Na contramão desse discurso pautado na saúde, existem pesquisas interdisciplinares em sociologia, antropologia, filosofia, estudos de gênero e ativismo feminista, pesquisadores uniram-se ao debate sobre a gordura, constituindo um campo do saber denominado “fat studies”, estudos sobre a gordura e os corpos gordos.
Esses estudos contemporâneos convertem o olhar sobre os aspectos fisiopatológicos associados à gordura corporal e o entendimento sobre os corpos gordos na sociedade. Criticam duramente o modelo biomédico e sua ineficácia no tratamento da obesidade.
Na contra mão de profissionais da saúde que costumam reforçar o discurso dominante naturalizado de que o excesso de peso deve ser combatido a fim de que doenças crônicas sejam evitadas, para vários autores esse discurso legitimado serve apenas para autenticar o mercado de alimentos, suplementos dietéticos, indústria dos exercícios físicos, produtos de beleza, cirurgias.
Sendo assim, existe uma urgência no aprofundamento para abordagens sócio-culturais sobre o tema, além das pesquisas médicas com visões restritas a contagem de números e propostas de intervenções, conclusões dadas antes mesmo de entender o que significa o corpo gordo na sociedade contemporânea.
Um desses pesquisadores, Jean Pierre Poulain (1956- ) sociólogo francês escreveu um livro “Sociologia da Obesidade” chamando a atenção para essa discussão, ele diz que,
Tentemos mensurar o que está em jogo no estabelecimento de programas de luta contra a obesidade. Apontemos os riscos sanitários, sociais e culturais aos quais está sujeita a medicalização da alimentação cotidiana. A difusão maciça de informações sobre nutrição, na ausência de provas e de argumentação científicas a respeito das relações entre o conhecimento e o comportamento, faz co que muito frequentemente os conhecimentos científicos e as representações morais se permeiem no discurso medicalizador sobre a obesidade e a educação nutricional, sobretudo entre os não especialistas (médicos de cínica geral). A comunidade médica deve estar consciente do papel de “grande estigmatizador” que ela arrisca desempenhar, e perceber as consequencias contraproducentes. (POULAIN, 2013, p. 281-282).
O Mercado Plus-size não representa, mas vende

Segundo dados do SEBRAE, a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), o mercado plus size cresce 6% anualmente e movimenta cerca de R$ 5 bilhões. Esse percentual corresponde a cerca de 300 lojas físicas e aproximadamente 60 virtuais. A expectativa, segundo a associação, é de um crescimento de pelo menos 10% ao ano, com expectativas de multiplicar essa porcentagem a partir de 2018.
Assim, o segmento representa uma grande fatia da população e uma grande oportunidade de negócio, tal mercado ficou conhecido como mercado plus size.
Plus size é a nomenclatura dada pelos norte-americanos para modelos e tamanhos acima do padrão convencional dos manequins vendidos nas lojas de vestuário nos USA. Em inglês, plus size significa “tamanho-maior”, designando qualquer numeração acima dos 44.
O crescimento da população que está acima do estipulado pelo IMC (índice de massa corporal), que convenciona e difunde o “peso ideal”, despertou o interesse, enquanto potencial nicho de mercados variados que compreende o chamado mercado plus size que, diga-se de passagem, tem apresentado significativo crescimento mundial incluindo o Brasil.
Esse mercado parece estar mais preocupado em lucrar, como objetivo do que representatividade da mulher gorda na sociedade, já que veremos que o corpo gordo feminino que tem sido usado como marketing desse mercado não é o mesmo que transita nas ruas de nosso país.
A representatividade que não representa

Uma das principais polêmicas atuais na discussão sobre o mercado plus size é a representatividade da mulher “com curvas”, nome que tem se difundido, revestido de positividade, para designar a mulher gorda. Mas, o que será que o mercado tem entendido por representatividade? Essa representação representa efetivamente as mulheres brasileiras acima do peso imposto pelo mundo da moda?
Acompanhando, nas redes sociais, blogs e canais de mulheres que se autodeclaram gordas e afirmam possuir e representar os corpos que são excluídos das passarelas e do mercado da moda contemporânea, percebemos que o tema da representatividade da mulher gorda é muito mais complexo do que aparenta ser.
Nas últimas décadas, as discussões sobre o conceito de representatividade estão ganhando força nas estratégias de marketing dentro das indústrias mercadológicas, principalmente com o público feminino, perceptível em diversas estratégias publicitárias de diversas marcas famosas.
A marca Avon de cosméticos, por exemplo, vem se destacando desde 2016 pela inclusão e diversidade de suas campanhas, criando uma repercussão positiva nas redes sociais.

Segundo a Diretora de Marketing da empresa: “A Avon quer que as mulheres possam ter mais escolhas e garantir que elas tomem as próprias decisões e sejam protagonistas de suas próprias histórias. Nosso propósito é criar um mundo com mais mulheres empoderadas, pois sabemos que quando uma mulher é empoderada, ela ajuda, influencia e empodera outras mulheres.” (SILVA, 2017).
Para os estudos de consumo contemporâneo, o conceito de Representação Social toma uma dimensão forte tanto política, como econômica, social e cultural, tornando-se uma discussão imprescindível para entender a sociedade em que vivemos e suas representações simbólicas.

A padronização dos tamanhos parece não ser rompida, apenas levemente dilatada, e tal padronização é acompanhada por outras questões de beleza, como vemos na maioria das campanhas plus size nas mídias.
No cabelo, nas unhas, na propagação de um tipo de sensualidade que sustenta a construção social do gênero feminino. Justamente o que uma parcela de mulheres gordas maiores vem buscando romper através de vários tipos de ação.
Não quero dizer que as gordas “reais” não querem ser sensuais, claro que querem, todos querem, a sensualidade faz parte do universo humano, mas essa construção midiática de uma sensualidade única, magra, branca é que não cabe mais num mundo onde a diversidade existe e aparece.
O que é importante na reivindicação do ativismo gordo por representação, é que se tenha uma visão fora dos estereótipos e padronizações corporais como verdade.
Para a representatividade estereotipada existe uma naturalização de mulher e de papéis femininos dentro da padronização da beleza que não ajuda nem um pouco quem esta fora ou não consegue alcançar esse padrão estilizado do que usar, vestir, ser e estar.

Foucault em a Ordem do Discurso (1996), quando analisa as inversões das evidências na análise do discurso social, explica que buscar a vontade de verdade e os recortes discursivos acabam construindo a naturalização de papéis. Segundo o autor, o discurso verdade se apoia na tradição, na ciência, na religião para acabar definindo a essência dos sujeitos, uma identidade construída em critérios arbitrários que se apresenta como um caráter atemporal, negando toda uma historicidade em afirmações do tipo “essa mulher, representa todas as mulheres gordas do Brasil”.
Nesse discurso de representatividade da mulher gorda, vemos a reprodução do corpo sexuado, a ostentação da produção do corpo feminino útil e dócil dentro das normas padrões do que vende e do que se almeja ser, sem ser.

As tecnologias do mundo contemporâneo acabam através do discurso midiático imageticamente reproduzindo a ideia das representações de gênero, de mulheres sensuais, brancas, magras e poderosas no sistema vigente.
Foucault (1988, p.180) explica esse poder, “(…) Afinal, somos julgados, condenados, classificados, obrigados a desempenhar tarefas e destinados a certo modo de viver ou morrer em função dos discursos verdadeiros que trazem consigo efeitos específicos de poder.”

É como se as mulheres gordas que olham as imagens da modelo vissem essa reprodução de sensualidade, de corpo sexuado que representa a beleza, abrissem as portas para as mesmas acharem que estão sendo representadas, porém, esse corpo é uma mercadoria que vende uma representação equivocada do que é ser uma mulher gorda no mundo contemporâneo.
O que esse corpo representa então? Por trás desse corpo, e através dele, está a repetição da padronização de um corpo feminino menor sensual, é o mundo feminino corporativista, o império dos cosméticos, da indústria plus size, da mulher branca de classe média e alta que pode comprar esse corpo representado pelas mídias. Juntam-se dominações de gênero e de classe sob a vontade inocente de ser bonita.
Segundo a feminista Virginia Wolf em seu livro “O mito da beleza” (1992) explica que o mito da beleza não tem absolutamente nada a ver com as mulheres. Ele diz respeito às instituições masculinas e ao poder institucional dos homens. As qualidades que um determinado período considera belas nas mulheres são apenas símbolos do comportamento feminino que aquele período julga ser desejável. O mito da beleza na realidade sempre determina o comportamento, não a aparência.

A filósofa Judith Butler em seu livro “Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade” (2003), explica que as identidades são construídas discursivamente pelas normas sociais, efeitos de instituições, práticas e discursos múltiplos e difusos. Ou seja, a realidade que o sujeito apresenta, diz do corpo que fala e age é performativamente produzida pelo discurso. A autora defende “um modelo performativo da identidade no qual nossas ações, repetidas incessantemente, constituem a identidade como se fosse algo natural; a essência é, assim, um efeito de performances repetidas que reatualizam discursos histórica e culturalmente específicos.” (BUTLER, 2003, p.446).

Nessa construção performativa do corpo gordo feminino, fragmentado em hierarquias de cor de pele, cabelo, sedução, classe social, se pode ver a dramatização da representação delimitadora do próprio gênero feminino, ligado a um determinante biológico inferior, incapaz e sedutor. O corpo feminino é inferior, mas o corpo gordo feminino o é ainda mais.
O corpo, para Foucault (1987), está inserido numa teia de poderes que lhe dita proibições, obrigações e coerções que acabam por determinar gestos e atitudes e, portanto delimitam as práticas e mecanismos na construção do corpo inteligível em uma estrutura sociopolítica de utilidade e docilidade.
Isso acontece porque esse corpo padrão, ainda que seja um padrão maior que o padrão dominante, é um produto que se vende como ideal, associado a felicidade, ao belo e o parâmetro de beleza acaba sendo mulheres famosas que estão em evidência e são apresentadas pelo mercado da moda como “poderosas”, e claro, todas querem ser poderosas, aceitas e felizes.

As mulheres continuam repetindo um ciclo de se ver na celebridade, no outro, como se fosse ela mesma, porém essa performance acaba por deprimir ainda mais a mulher que se vê na famosa, mas não tem o corpo dela, e isso vende, porque tristeza e insatisfação com o próprio corpo rende muito consumo.
Assim, esse discurso de representatividade acaba por estar no mesmo processo da opressão estética que a mulher sofre e sempre sofreu sobre seu corpo.
Muitas dessas aparições acabam por reforçar ainda mais a gordofobia no mundo atual, já que, onde estão as mulheres que vestem acima dos 50, que tem cabelos que não são lisos e loiros, peles e rostos diferenciados daqueles valorizados pela grande mídia?
Elas existem e estão se organizando fora do mercado, em sites, páginas e blogs, lutando por representatividade real da mulher gorda no mundo. Algumas marcas estão surgindo, lideradas por pessoas gordas que estão preocupadas em ganhar dinheiro, mas também em representar aquilo que está excluído do mercado: O corpo gordo feminino.
O corpo gordo feminino que resiste

É através do corpo que temos a experiência de estar no mundo e tais experiências encontram-se marcadas no corpo, não somente do ponto de vista físico, mas como um agenciador de produção de subjetividades. Na sociedade contemporânea, que é orientada por múltiplos valores, a própria experiência de ser e ter um corpo, que pode ser modificado por técnicas, tecnologias, artes, dietas constantemente, é sujeita a paradoxos.

Nós gordas e quem apoia a diversidade dos corpos, deveríamos prestar mais atenção na hora de nossas compras e apoiar apenas marcas que estão preocupadas de verdade com os corpos excluídos socialmente.
Existem inúmeras lojas que se autodenominam plus size, mas quando você pede uma numeração acima dos 50 eles não têm, é como se a partir dessa numeração a marca não quisesse que gordas maiores saíssem nas ruas com seus modelos, isso mesmo, maior de 50 não precisa usar a etiqueta. Marcas que se intitulam moda maior, mas que escolhem até que números seus clientes podem vestir suas roupas, isso é gordofobia também.
Vale lembrar como já apontado, que existem algumas marcas preocupadas com essa numeração maior, mas que ainda em sua maioria, é para um público com mais poder aquisitivo. Quando não se tem o privilégio de poder gastar com roupas, a coisa fica ainda pior, e quando achamos a numeração grande são extremamente mal cortadas, com tecidos de péssima qualidade, cores horríveis.
Para variar o gordo deve ser castigado: “Não tem roupa que te sirva, faz um regime para que algo te sirva”. “Experiência própria; de uma ilógica sobrenatural, eu que devo caber na roupa não a roupa em mim.”

Pesquisando algumas marcas na internet que tinham números acima dos 54, percebi que quase todas têm uma relação íntima com o corpo gordo, e automaticamente com a preocupação de roupas legais caberem numa pessoa gorda, ou seja, gordos fazendo roupas para gordos. Isso é representatividade.
Observações essas que mostram a importância do Ativismo Gordo e dos coletivos antigordofobia nas redes nesses últimos anos no mundo todo, ter uma roupa legal para se vestir é um direito de qualquer pessoa.
Por isso a importância do corpo gordo ocupar espaços sociais dominados por corpos magros é de uma importância única, só quem passa pela falta de roupas no mercado para vestir é que acaba se preocupando em suprir essa lacuna.
A falta de representatividade GORDA

Como vimos, a população que está acima do peso no Brasil é muito grande e significa mais que um problema epidêmico, como o discurso médico quer fazer crer. As pessoas gordas são cada vez maior, portanto, é também um público alvo crescente de um mercado que também cresce para satisfazê-lo.
A falta de representatividade da mulher gorda no mundo da moda até então, fez com que se vendesse menos. Se 30% da população mundial esta acima do peso, e quer se sentir representada, ou pelo menos achar que esta sendo representada, esses meios que tem usado a representatividade para vender a moda plus size tem um poder de mercado enorme. Sendo assim, será comum existir investimentos em publicidade e marketing para essa fatia do mercado.
Dessa maneira, mais do que uma representatividade ética e social para com as mulheres gordas, é um nicho visto como um grande negócio, uma engrenagem propulsora da venda de roupas, cosméticos e acessórios para mulheres fora do padrão, que até pouco tempo atrás, não era de forma alguma mencionada na mídia e muito menos na moda.

A moda plus size é considerada pelo mercado uma tendência mundial, já que a população acima do peso também vem crescendo. Isto significa faturamentos milionários.
A representatividade, enquanto quebra de padrões e valorização do corpo gordo feminino, ainda não existe no mercado, e se existe é algo inexpressivo, já que, o que se vê é uma falsa representação do que não é real, propulsionando o enriquecimento de inúmeras empresas de moda, que perceberam o grande lucrativo investimento na indústria do que é ser “bela” para pessoas acima do peso, hoje no Brasil.
O que vemos, são mulheres dentro de padrões de beleza, cultivado por impérios da moda, cosméticos e tudo que envolve a beleza da mulher no mundo contemporâneo.

Para que a mulher gorda seja considerada bela, deve seguir alguns estereótipos estipulados pelo sistema, como ser branca, não ter barriga, cabelos lisos, ser sensual, ser bem sucedida e ter dinheiro para comprar roupas, acessórios e tudo mais que possa fazer com que você mesmo que gorda, continue buscando no consumo a sua beleza.
Portanto, a representatividade ainda é incipiente no sentido de um consumo ativista preocupado em empoderar corpos fora do padrão estipulado pela indústria no mundo atual. Essas aparições de mulheres gordas e “lindas”, aparecendo com mais frequência nas medias não significa que pessoas gordas estão sendo aceitas na sociedade, muito pelo contrário,
Precisamos levantar o debate da representatividade midiática através de personalidades famosas em contrapartida a mulheres reais. Por um lado, temos corpos pouco acima do peso estipulado pelo mundo das passarelas, enquanto por outro lado temos mulheres de tamanhos maiores buscando representatividade de verdade procurando uma roupa para vestir.
Estamos diante de um paradoxo, já que se o objetivo é o consumo, vender e ganhar dinheiro, porque esse mercado se nega a contemplar mulheres – que são muitas – de numeração acima dos 50?

Diante dessa constatação, o que podemos dizer é que o estigma do corpo maior é tão grande que acaba atingindo também o mercado, contudo se fizermos uma pesquisa na internet pode-se constatar que esse mercado tem expandido, estudos do SEBRAE mostram que um bom investimento de empreendedorismo, por exemplo, em 2018 seria investir em tamanhos maiores.
Cabe a pergunta de quais tamanhos maiores estão falando? Esperamos que muitas mulheres da moda que sejam gordas comecem a militância em entender e perceber essa fatia de mercado e supram essa falta de sensibilidade do próprio mercado em vestir corpos maiores com qualidade e preços justos.
PARA CONSULTAR
ABRAVEST Associação Brasileira do vestuário. Disponível em: Associação Brasileira do vestuário. Acesso em: 21/06/2017
BUTLER, J. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Editora Loyola, 1996.
—— A arqueologia do saber. Rio de Janeiro, Forense, 1987.
—— A microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 1988.
MURRAY, C. Quase um terço da população mundial está obesa ou acima do peso. O número passou de 857 milhões, em 1980, para 2,1 bilhões em 2013, de acordo com o estudo Global Burden Disease, 2014. Disponível em: http://veja.abril.com.br/saude/quase-um-terco-da-populacao-mundial-esta-obesa-ou-acima-do-peso/. Acesso: 29/05/2014.
MURRAY, S. A patologização da obesidade: Posicionamento da Gordura em nosso imaginário cultural . Biopolítica e a Epidemia de Obesidade: Órgãos Diretivos: Órgãos Diretores. J Wright; V Harwood. Routledge, 2009.
POULAIN, J. P. Sociologia da Obesidade. São Paulo: Senac, 2013.
SEBRAE, 2016. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/moda-plus size-explore-este-nicho-de-mercado,5e48088ec0467410VgnVCM1000003b74010aRCRD. Acesso em: 23/03/2016.
SILVA, M.C.R.G. AVON: reposicionamento de mercado, marketing de valores e campanhas publicitárias de empoderamento feminino no Brasil. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Volta Redonda – RJ, 2017.
WOLF, N. O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
Obs. Texto publicado no TODAS FRIDAS em 2018.
Mulheres Gordas de Biquíni no Verão: Direito de Todes
Verão, água e o corpo: Nem sempre uma experiência positiva
Verão chegando… Calor aumentando… Férias, viagem, praia, rio, piscina, mangueira, e pra acompanhar toda essa delicia: a roupa de banho comum nessa época do ano. Todo mundo, ou quase todo mundo, gosta de água no calor e tem em seu guarda roupa alguma peça para essa ocasião: diversão e relax na água, até porque vivemos num país que o calor em dias de verão é insuportável.
Toda criança tem, ou deveria ter, lembranças carinhosas e alegres de momentos na água com a família, vizinhos e amiguinhos, viagens de férias, e se não, brincadeiras dentro da piscina desmontável ou caixa d’água, mangueira no quintal, essa cena faz parte do cotidiano brasileiro.
Depois vem a adolescência, e o corpo começa a se transformar visivelmente, e com suas transformações e hormônios bombando, aparecem os trajes de banho, os que estão na moda, a marquinha do biquíni, a festinha na piscina de um amigo do amigo, a viagem com a família da amiguinha da escola, e assim vai. Verão é tempo de usar pouca roupa e se divertir, não é mesmo?
Na fase adulta, naqueles dias de calor insuportável, procurar um rio, cachoeira, lago, bacia, mangueira, sei lá o quê para se refrescar e as roupas para se molhar também estão presentes na vida comum de um brasileiro. Top, shortinho, fio dental, cortininha, biquíni de fita, maiô, são diversos os modelos e marcas para usar nesses eventos do calor. Têm de todo preço e em quase todo lugar tem uma loja que vende moda praia.
Ideia comum e normatizada que todo mundo quer ficar na água, se refrescando, colocar pouca roupa e curtir o verão sem sofrer com as altas temperaturas.
Parece um cenário cotidiano, essas apresentadas acima desde nossa infância até a fase adulta, eu mesmo passei por isso. Contudo, quando você aprofunda seu olhar para a diversidade de corpos que existem no país e como esses corpos são excluídos nesses cenários, automaticamente aparece questionamentos: Todo mundo se diverte? Certeza? Todos os corpos são aceitos e têm o direito de se refrescarem e divertirem?
Geral se diverte, a não ser que seu corpo não tenha sido aprovado socialmente. São muitos os corpos reprovados pelo crivo do verão. Sem aprovação social, a mulher gorda é um corpo que não pode nem pensar em se expor, muito menos se divertir nos dias mais quentes do ano, aliás, em nenhum dia esse corpo deve aparecer e ser feliz, mas no verão essa exclusão pode ser ainda mais cruel e danosa as mulheres gordas.
Diversos são os depoimentos que observo nas redes sociais de mulheres que ficaram ou ainda estão, anos sem usar um biquíni ou maiô, sem ir a praia ou piscina, lago ou mangueira, se tiver uma galera junto ai que não vão mesmo.
Top e shortinho nem pensar, são mulheres que abdicam da diversão e refresco que esses momentos trazem na vida do sujeito comum, e que no verão se diverte na água, estando ou não de férias. As cidades grandes, como São Paulo, por exemplo, esvaziam, todos descem para o litoral a procura de água e diversão. As praias, piscinas e mangueiras no quintal lotam de pessoas a procura de sombra e água fresca.
A primeira vez que ouvi um depoimento de uma moça de 18 anos que nunca tinha ido à praia, nem a piscina porque tinha que usar biquíni, e o máximo que ela tinha feito para se refrescar, foi tomar banho no chuveiro gelado pelada de porta fechada pra ninguém ver seu corpo, estremeci.
Lembrei que nos meus 14 anos fiz uma viagem para Mongaguá com a família de uma amiga, íamos todos os dias a praia e estava usando maiô nos primeiros dias, depois de uma semana, ganhei um biquíni, tomei coragem e coloquei encima da marca do maiô, eu nunca fui muito encanada com essas coisas, apesar de já sentir a gordofobia, mas fui perceber e começar entender melhor o que acontecia na fase adulta.
Enfim, estava me divertindo na água, quando o namoradinho da minha amiga comentou com ela na minha frente, sem ao menos disfarçar: – Além de gorda essa marca está horrível. Fez-me mal, muito mal. Mas, ainda bem, me afastei daquele tipo de gente, porque eu queria era ser feliz. Daquele dia em diante, tenho evitado gente assim, e ao invés de maiô, prefiro os biquínis e as pessoas que evitam julgamentos desnecessários.

Às vezes consigo, outras vezes não, mas nem sempre todas as mulheres conseguem perceber que você não é obrigada a andar com quem te trata mal, e pior ainda, quando a própria família faz esse tipo de julgamento o tempo todo.
São dessas mulheres que quero falar nesse texto, sobre todas as GORDAS que com corpos grandes, em algum momento da vida ou em vários, fomos julgadas e diminuídas por querer estar onde todos estavam se divertindo na água, usando a roupa do verão.
Terrorismo no Verão
Numa das reflexões levantadas pela historiadora Denise Sant’Anna que estuda o corpo gordo e a história da beleza no Brasil, em um artigo bem gostoso de ler, publicado numa revista feminista em 2014, intitulado: “Da gordinha à obesa. Paradoxos de uma história das mulheres” a autora chama a atenção do corpo gordo feminino na praia e as provas de aprovação ou reproche que existe dentre os corpos em trajes de banho no verão.
Sant’Anna explica, que não existe formalmente um júri com jurados conhecidos e provas a serem realizadas, mas que a famosa “prova da praia” existe, ela afirma que sim. “(…) a publicidade de cosméticos investe massivamente nessa imaginária prova, aguçando e necessidade de vigiar a própria aparência com uma tenacidade de fazer inveja aos policiais.”
A mídia e sempre ela, mostra a sociedade como o corpo deve se vestir, estar, medir, principalmente quando está em trajes de banho. Também apresenta massivamente a caça as bruxas dos corpos gordos e a patologização da “obesidade”. Assim,
(…) nada escaparia aos olhares dirigidos às silhuetas banhadas pela luz solar: qualquer ponta de celulite, todos os quilos a mais ou músculos a menos, além de manchas e flacidez estariam flagrantemente expostos à crítica alheia. O pior é que, segundo aqueles mesmos conselhos, esta revelação da aparência física ainda corre o risco de dar lugar a outras, mais profundas, tais como a suposição de que corpos fora do padrão estariam em desacordo com a vida moderna, indicando uma vontade fraca, “baixa autoestima”, alguma doença, pobreza ou mesmo falta de higiene. ( Sant’Anna, 2014).
Revistas, programas de TV e anúncios bombam nas mídias com a proposta à melhoria física ao alcance de todos: desafio verão, treino verão, projeto corpo verão, barriga chapada verão, tudo encima pro verão, dieta do verão, treino enxuga pro verão e assim vai…
Segundo a historiadora, existe um ar terrorista em todos os verãos, numa corrida por apresentar o corpo em trajes de banho exatamente como as medias impõem: um corpo magro, malhado e bronzeado de preferência.
Por isso, a fórmula “prepare-se para o sol” – que poderia ser um aviso com gosto de descanso e contentamento, pois coincide com férias, calor, possibilidade de se divertir e repousar – evoca um rol imenso de tarefas a cumprir, com muita disciplina e inabalável esforço: é preciso fazer dieta, nutrir a pele e os cabelos, empenhar-se em exercícios físicos, decidir por cirurgias plásticas, depilações, escova progressiva, ingestão de cápsulas para melhorar o bronzeamento e tantos outros tratamentos que incluem diferentes intervenções no corpo, externas e internas, muito gasto de dinheiro e tempo. Ou seja, para tirar a roupa e expor o corpo quase nu em praias e piscinas é preciso um longo e custoso preparo. Até recentemente na história, era necessário um longo e custoso trabalho para se vestir. Atualmente, o fardo também é de peso para quem quer se despir. (Sant’Anna, 2014).
Assim, que não existe descanso na hora de descansar, nas férias não há divertimento na hora de se divertir, muito pelo contrário, nós mulheres através de uma opressão estética irracional, devemos estar preparadas, com muito esforço e cuidado para apresentar um corpo aceito para que a vitrine social do verão aprove ou reprove nosso corpo nesse cenário.
Junto a essa aprovação social, caminha lado a lado todo um estigma e julgamento daquelas que não conseguirão se esforçar o suficiente para a conquista do corpo perfeito. São fracas, desleixadas, preguiçosas, sujas, inúteis e assim por diante.
Para qualquer mulher, o tão conhecido “projeto verão” pode se tornar uma experiência triste e traumática, mas para uma mulher gorda, o verão pode ser o grande “projeto terror”, existem mulheres gordas que se suicidam por não conseguirem o corpo magro conquistado por algumas, existem outras ainda, que se mutilam, choram, se isolam e desenvolvem síndrome do pânico, medos sociais, traumas, fobias, etc.
Essas mulheres já sofrem gordofobia o ano todo, mas no verão essa pressão, esse julgamento multiplica e pode ser mais cruel, dependendo de como a mulher gorda está e com quem está acompanhada, as consequencias podem ser doentias.
Direitos Humanos: Direitos aos gordos curtirem o verão

A ONU define que: “Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.”
Quando falamos que a gordofobia é muito mais profunda que qualquer pressão estética que uma mulher venha sofrer, estamos falando da perda de direitos, direitos esses básicos, como no caso aqui exposto das pessoas gordas curtirem o verão, usarem a roupa de banho que escolherem e se sentirem bem, sem medo a julgamentos e humilhações.
Poder entrar no mar, piscina, mangueira ou caixa d’água do jeito que bem quiser e sorrir, curtir, se refrescar, também é um direito! Todos devem ter o direito a ser feliz, vocês não acham?
A gordofobia nesse caso, já começa na hora de comprar uma roupa de banho numa numeração maior, é quase um martírio e nem a indústria, como o comércio estão preparados para atender essa clientela.
Numa experiência ano retrasado no Rio de Janeiro, duas amigas foram às compras de biquínis, a mulher magra usa numeração 42-44 e a gorda usa 58-60, visitaram dois shoppings e um comércio popular, a amiga magra comprou dois biquínis e um maiô que eram de seu gosto, pode escolher peças que estavam em promoção, provou alguns e encontrou rapidamente o que queria, o tratamento das vendedoras foi atencioso e assertivo no atendimento a cliente magra. Enquanto isso, a amiga com corpo maior, não achou em nenhum estabelecimento trajes de seu tamanho, as vendedoras a trataram com descaso e indicavam lojas com tamanhos “especiais ou maiores”. Exausta de tanto buscar, descobriu na internet, no dia seguinte, uma loja que vendia tamanhos maiores e lá encontrou um biquíni a seu gosto, mas no corpo não se sentiu confortável, assim preferiu comprar um maiô que se sentiu mais confortavelmente, contudo só tinha preto e azul marinho, não tinha nada colorido e alegre, e o preço mais caro que toda a compra que a amiga magra gastou. Como observamos a gordofobia já começa na hora de ter acesso ao consumo do traje de verão.
Ainda sobre sofrer gordofobia a vida toda por ter um corpo maior que o estabelecido, conversei com uma moça de 17 anos que mora em Natal pela net, ela me disse:
Moro bem perto da praia, na minha casa tem piscina, verão aqui na cidade é uma alegria, todos de férias curtindo o mar, a piscina, usando roupas curtas, se refrescando, a família toda se reúne na praia. Pra mim sempre foi um inferno, nunca pude ir a praia como queria, só ia porque minha mãe me obrigava, e de bermuda e camiseta, chorava tanto depois. (…) Já tentei me matar muitas vezes, tenho o braço todo marcado, uma vez tomei uns remédios da caixa da minha mãe de remédios e fiquei internada 15 dias quase fui, queria ter ido, todas as minhas tentativas terminavam em frente ao psiquiatra, tomando remédios. (…) Minha mãe parou de me obrigar ir a praia e emagrecer, nunca mais fui: eu odeio o verão, mas amo a praia. (…) Ano passado estava passando de carro com minha tia na orla da praia e vi um grupo de mulheres gordas com faixas e gritos “Vai ter gorda na praia Sim!” elas infernizaram o verão de Natal, as vi em vários pontos da cidade, eu tive vergonha de chegar perto, mas pesquisei na internet e descobri que tem um monte de mulher gorda, como eu, usando biquíni e indo na praia, fiquei feliz e tive vontade de me juntar a elas. (2018).
Parecido a esse depoimento já li inúmeros deles, de diversos lugares do Brasil e America Latina, narrativas que falam sobre mulheres que nunca conseguiram curtir o verão pela gordofobia que sofrem; algumas superam, infelizmente outras não.
Por isso que o ativismo gordo é responsável, muitas vezes, pelo empoderamento gordo. Estar em contato, conhecer e pesquisar sobre o corpo maior é importante, porque é nele que podemos nos espelhar, vendo mulheres se libertando dessa opressão, vendo gordas empoderadas acaba sendo uma inspiração de libertação de toda essa humilhação e entender que ser feliz com o próprio corpo é Nosso Direito.
O Ativismo Gordo liberta

O MEU CORPO É RESISTÊNCIA
Todo dia uma mulher gorda é xingada na rua. Todo dia uma mulher gorda é mal atendida por um médico. Todo dia uma mulher gorda ouve uma mulher magra dizer que está gorda (e que isso é a coisa mais terrível que pode acontecer em sua vida). Todo dia uma mulher gorda é olhada com desprezo numa academia. Todo dia uma mulher gorda é julgada num restaurante. Todo dia uma mulher gorda é escondida pelo seu namorado (que sente vergonha de amar uma mulher fora dos padrões). Todo dia uma mulher gorda é rejeitada numa entrevista de emprego. Todo dia uma mulher gorda quebra uma cadeira (feita pra pessoas magras). Todo dia uma mulher gorda escuta que ela é bonita, mas apenas de rosto. Todo dia uma mulher gorda é classificada como uma pessoa sem vida sexual. Todo dia uma mulher gorda causa espanto por ser feliz. Todo dia é dia de resistência. (VIEIRA, 2016).
O Ativismo Gordo tem aparecido nesse cenário para contestar essa padronização do corpo belo magro, mulheres que também sofreram por ser gordas socialmente e tentaram de diversas formas se adequar ao estabelecido, mas por dentro não estavam felizes e não se aceitavam como eram, nem todo mundo consegue ter um corpo magro, existe inúmeros canais anti gordofobia e empoderamento no Brasil e no mundo que reverbera essa situação: Mulheres gordas que mudaram a maneira de ver e sentir o próprio corpo no mundo.
Além dessas experiências, existem pesquisadores-ativistas- sobre a temática contestando o que profissionais da saúde afirmam sobre o corpo gordo ser doente. São pessoas que usam suas pesquisas para propagar essas discussões e que colocam acima de tudo a integridade das pessoas gordas e o direito a existirem e resistirem.
Resistir a esse terrorismo pela beleza de ter um corpo magro faz desses corpos, corporalidades políticas subversivas que mostram ao mundo que existimos e temos o direito a sermos felizes com os corpos que temos.
No livro de Sant’Anna sobre a história da Beleza no Brasil, explica a obediência feminina pela busca do corpo verão, que já acontecia nos anos 60 e 70,
Com a voga internacional dos três S (sun, sex and sea), o corpo jovial, magro e bronzeado transformou-se num grande símbolo de beleza, saúde e sensualidade. Em 1944, havia sido criado o primeiro creme de bronzear Coppertone. Mais tarde, a beleza feminina foi pedir morada entre aquelas que conseguiam uma aparência cujas marcas de biquíni fossem bem nítidas. Para dourar a pele valia tudo: receitas mirabolantes eram trocadas entre garotas obedientes a uma disciplina impecável de exposição ao sol. Elas mais do que eles, dedicaram-se ao bronzeamento em praias, piscinas e quintais: meia hora de frente para o sol, sem se mexer muito, e meia hora deitada de bruços. (Sant”Anna, 2014, p. 128-129).
Obediência essa se repete nos dias atuais, e junto a toda essa conformidade, por outro lado, também vem surgindo mulheres que questionam a padronização corporal. Discussões levantadas pelo ativismo gordo, por exemplo, como: para quem emagrecemos e para quem fazemos todos esses esforços de aprovação social de corpo belo e magro? E porque vale tudo para estar magra e bela? O que é mais importante o que os outros pensam de seu corpo ou o que você sente sobre ele?
Mediante a questionamentos dessa natureza, a visão crítica sobre estar no mundo, modifica a consciência dessa imposição sobre o próprio corpo, que também vai passar por um pensamento mais crítico e mais humano perante ao estigma que a sociedade em geral nos apresenta desde a infância.
“Conhecer é poder”, já disse Francis Bacon e é disso que trata o ativismo, apresentar outras possibilidades de conhecer e responder as imposições sociais sobre os corpos que não estão nos padrões capitalísticos de consumo, muitas vezes inquestionáveis, apenas obedecidas.
Michel Foucault explica em seu livro Microfísica do Poder, com diversos argumentos, como nossos corpos vão sendo educados desde que nascemos para seguir o imposto pelos dispositivos de poder, como a beleza, a sensualidade, obediência, aceitação e assim por diante.
O domínio, a consciência de seu próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular, a nudez, a exaltação do belo corpo (…) tudo isso conduz ao desejo de seu próprio corpo através de um trabalho insistente, obstinado, meticuloso, que o poder exerceu sobre o corpo das crianças, dos soldados, sobre o corpo sadio. (Foucault, 1979, p.146)
Romper com essa maneira de estar no mundo, é propor um corpo político, que resiste a ser padronizado como belo, saudável e magro. Rotulados, etiquetados e colocados na vitrine verão, como modelo do ideal a ser seguido e conquistado.
Quebrar com isso é revolucionário, porque se resiste à obrigação de ser o que não se é, estar contra o que se é esperado e que não se sintam mal por não estarem dentro do padrão, aceitando seu corpo como é, acaba quebrando toda uma concepção do que é ser belo e feminino na visão capitalística.
Muitas mulheres que fazem parte do ativismo gordo pararam de lutar com a balança, regimes absurdos, plásticas, academias, espelhos e agora se aceitam como são, transformando seus corpos em corpos criativos, políticos de luta.
Essas militantes são felizes, estão felizes porque buscam no mundo o seu lugar como são e não como querem ou estipularam que deveriam ser. Mulheres, que já não aceitam de maneira alguma seguir pela busca, seja como for, pela padronização da estética feminina magra.
É de empoderamento político que estou falando, do empoderar proposto pelo feminismo negro, que Joice Berth explica tão lindamente em seu livro O que é empoderamento?
Partimos daqueles e daquelas que entendem empoderamento como a aliança entre o conscientizar criticamente e transformar na prática algo contestador e revolucionário na sua essência. Partimos de quem entende que os oprimidos devem empoderar-se entre si e o que muitos e muitas podem fazer para contribuir para isso é semear o terreno para tornar o empoderamento fértil, tendo consciência, desde já que ao fazê-lo entramos no terreno do inimaginável: o empoderamento tem a contestação e o novo no seu âmago, revelando, quando presente, uma realidade sequer antes imaginada. É sem dúvidas, uma verdadeira ponte para o futuro. Vale dizer que há a importância de se empoderar no âmbito individual, porém é preciso que também haja um processo conjunto no âmbito coletivo. Quando falamos em empoderamento, estamos falando de um trabalho essencialmente político. (BERTH,2018, p.129-130).
Esse novo corpo que faz questão de ocupar os espaços que sempre foram negados a ele é um corpo que acontece, político, assumido e provocativo já que é indesejado.
A proposta de aparecer é subverter a lógica estabelecida e resistir nesses lugares antes proibidos e censurados. Assim, esse corpo gordo da mulher que se impõe é político e provocador, mostrando aos sujeitos que se pode estar no mundo e ser feliz tendo outro corpo que não o estipulado como belo e saudável.
Assim, que acompanhar essas mulheres corajosas e revolucionárias faz bem, impulsiona nosso ser político e contestador das regras verberando uma nova maneira de ver e estar no mundo.
Para Lazzarato em seu livro “As revoluções do capitalismo”, existe um corpo que acontece como resistência ao controle dos corpos, experimentando outros corpos possíveis.
A ação política é uma dupla criação que acolhe simultaneamente a nova distribuição de possibilidades e trabalha por sua efetuação nas instituições, nos agenciamentos coletivos \”correspondentes à nova subjetividade\” que se expressa através e no acontecimento. A efetuação de possíveis é, ao mesmo tempo, um processo imprevisível, aberto e arriscado. (LAZZARATO, 2006, p. 20).
Para Consultar:
BERTH, Joice. O que é Empoderamento? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 17.ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
LAZZARATO, M. As revoluções do capitalismo: A política no império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
ONU. https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/
VIEIRA, T. O meu corpo é resistência. Blog Gorda Zen. Disponível em: http://gordaezen.com.br/selfie-empoderada/o-meu-corpo-e-resistencia. Acesso em 13/ 05/2016.
SANT’ANNA, Denise. História da Beleza no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2014.
SANT’ANNA, Denise. Da gordinha à obesa. Paradoxos de uma história das mulheres. Disponível em: https://www.labrys.net.br/labrys25/corps/denise.htm
OBS. Texto publicado no Todas Fridas, 2018.

Lute como uma gorda é um blog criado pela Profa. Dra. Malu Jimenez, ativista e pesquisadora do corpo gordo. Aqui reunimos e potencializamos conteúdos sobre este tema, a fim de construir, conectar e formar pessoas que se interessem pela causa.
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