Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

O que é ser uma MULHER GORDA?

Por Malu Jimenez

Estamos no mês de março, momento histórico de luta do feminismo, momento para lembrar que muitas de nós, morreram e morrem como resultado do cistema – cisheteropatriarcalcolonialista, que considera mulheres como seres inferiores, hierarquizados, fetichizados, somos as que carregam o fardo de manter tudo na “ordem” para que os homens possam viver.

Ainda hoje não somos donas dos nossos corpos, somos violentadas, humilhadas, assassinadas e culpabilizadas pelas roupas que vestimos, e não importa socialmente o quão isso é violento, nem com nossas histórias, vidas, planos, famílias…

Ser mulher no mundo é correr o risco, a cada minuto, de sofrer algum tipo de violência, é criar estratégias de sobrevivência, e isso é exaustivo, doentio.

\"\"
Ensaio Abrem Caminhos – Por @juqueirozfotografia, 2020.

Contudo, ser uma MULHER GORDA é multiplicar todas essas dores, é estar mais abaixo ainda desse entendimento, do que significa ser mulher, mesmo que se considere a MULHER, como disse, um ser inferior aos demais (homens), a mulher GORDA nem é considerada mulher, nem é vista como gente, nem é levada em conta…. a não ser que ela emagreça… aí sim, a sociedade revê o seu lugar no mundo, não que seja um lugar de respeito e autonomia como ser humanos, mas ainda assim é lugar mais privilegiado do que de uma mulher gorda.

Então, eu pergunto:

O que é ser uma MULHER GORDA no mundo?

É uma pergunta que lateja na minha mente há anos… O que é?

Já pensaram sobre isso?

Eu sou uma Mulher gorda no mundo, conheço muitas outras, e posso garantir que estar no lugar de lutar por existir todos os dias de nossas vidas, é ser ativista mesmo quando não se quer ser, é chorar escondido muitas noites, porque mais uma vez foi humilhada, invisibilizada… é ter inúmeros traumas a tratar, porque foi excluída de tudo que se pretendeu fazer no mundo, é estar a margem do que significa ser mulher nesse cistema.

Ser uma mulher gorda é ter que se explicar todo o tempo, andar com seus exames em-

baixo do braço para justificar quem somos, e tentar explicar que a gente só quer existir, mas sempre com um pé atrás, porque não sabemos se o tamanho de violência que vem justificada de amor e preocupação com a saúde a gente vai suportar mais uma vez, porque dói, machuca, e é muito intenso ter que lidar com isso quase todos os dias de nossas existências…

\"\"
Ensaio Abrem Caminhos, Por @juqueirozfotografia, 2020

É pela saúde, é por amor, pelo nosso bem, por cuidado… A violência que rasga nossa carne, nossas subjetividades e nossa existência vem do lugar de que nós mesmas não somos capazes de nos cuidar, amar, ter tezão, escolher nossa comida, estilo de vida, praticar atividade física, ter saúde, ficar doente, nós somos vistas como uma bola imensa de gordura podre, estragada marcada por características: feias, chatas, bravas, violentas, compulsivas, doentes, preguiçosas, desiquilibradas, descontentes, assexuadas, tristes, fracassadas, nojentas.

 E, portanto, merecemos ser ofendidas, diminuídas e contestadas, toda vez que dissermos alguma coisa sobre querer existir, sobreviver, nossas dores…

A denúncia a violência que sofremos nos é negada, e não só pelos homens, instituições sociais, mas infelizmente por outras mulheres que não conseguem entender como os homens que nesse mundo comandam:

que não aguentamos mais, que é preciso reivindicar respeito, que somos pessoas como qualquer outra e sabemos sobre nossas vidas, porque vivemos elas todos os dias desde que nascemos, temos histórias para contar, temos corpos para amar, temos vida para viver!

\"\"
Ensaio Abrem Caminhos, Por @juqueirozfotografia, 2020

Texto publicado na Revista A LOBA, março de 2020.

A GORDOFOBIA MATA

E EM TEMPOS DE QUARENTENA MATA MAIS!

Malu Jimenez e Ale Mujica

Se tem uma coisa que todes, ou a maioria das pessoas no mundo todo sentiu com a Pandemia do coronavírus foi medo. Muita gente por aqui, talvez ainda não tenha entendido, ou percebido a gravidade do problema, mas quem acompanha o fenômeno covid-19 está preocupado, no mínimo vem tentando realizar as medidas preventivas, que não só irão ajudar ao cuidado de si, mas também de outres, evitando tanto se infectar com o vírus, como transmiti-lo. Outres, de tanto medo, estão na negação e acreditam que não serão contagiados, cada une lida com o medo como pode, sabe ou consegue.

O sistema capitalista também se aproveita do medo para se enriquecer ainda mais, incentivando um consumo frenético de diferentes produtos, como álcool em gel, máscaras, luvas (sem as devidas recomendações). E também de produtos alimentícios, para quem tem o capital econômico, fazer estoque. Esse cenário se complexifica ainda mais com a circulação de notícias sensacionalistas em conjunção com a indústria do corpo, como é o caso dos impérios trilhardários do emagrecimento no mundo.

As pessoas têm medo de engordar, a sociedade é gordofóbica, ou seja, coloca às pessoas gordas como doentes ou com risco de serem. Como corpas não desejáveis dentro do imaginário de como deveria ser a sociedade. Desta forma, recria diferentes formas de vigiar e punir essas corpas-pessoas, mas também de controlar como nossas corpas devem ser, pensar, comportar, etc.

 A saúde e suas instituições jogam um papel muito importante nessa triada (vigiar-punir-controle), sendo que retroalimentam o lugar de corpas gordas como abjetas.

A mídia também entra em cenário, trazendo narrativas, sem fundamentos científicos e se usando das categorias biomédicas, de que as pessoas ‘obesas’ seriam um grupo de risco para o coronavírus. Isto faz com que esse medo de engordar seja alimentado ainda mais e assim milhares correm a farmácia e compram shakes, cintas, ebooks, afins. A internet anuncia a cada minuto como emagrecer em poucos dias, e assim segue a boiada desesperada. 

Mais perigoso e cruel ainda é entender os mecanismos pelos quais o preconceito, o estigma e a discriminação para com as pessoas gordas (gordofobia) são articulados no discurso acadêmico-científico da biomedicina e materializados no cuidado à saúde das pessoas gordas. O que nos faz pensar em como serão os atendimentos as pessoas gordas, caso elas tenham que ficar internadas num quadro grave na pandemia. Como serão tratadas?

Fico imaginando quando precisar ir ao hospital com sintomas do vírus e não houver maca, cadeira para mim. Como será que a equipe médica vai me tratar? Essas pessoas aprenderam sobre gordofobia em suas formações? O que andam lendo na mídia?

Organizações como a OMS (organização Mundial da Saúde) colabora com esse medo, já que colocou pessoas gordas no grupo de risco, isso ajudaria em quê? Na contribuição do desespero em engordar na quarentena. Parece-nos mais uma biopolítica de higienização de aquelas corpas que não se encaixam dentro das norma-tividades, se justificando, mais uma vez, dentro da construção do dito ‘saudável’.

Engraçado perceber que o maior órgão de saúde no mundo contribui para que as pessoas gordas fiquem mais doentes e as magras entrem em desespero em engordar. Que tipo de saúde é essa que não consegue lidar com uma pandemia e com corpas dissidentes mais uma vez?

Muita coisa a pandemia nos trouxe além do medo, uma reflexão sobre como nossos governos vem tratando a saúde, a comercialização do saudável, a normatização e hierarquização de algumas corpas. Vimos isso no discurso do ultimo/novo Ministro da Saúde no Brasil quando diz quem merece ser salvo na pandemia. E, você o que responde a essa pergunta que nem deveria existir: Quem merece ser salvo na pandemia?

Obs: Esse texto foi publicado no Todas Fridas em 2020.

Se liga: Body positive NÃO é Ativismo Gordo!

Por Malu Jimenez

Essa semana na internet tenho lido de pessoas gordas, questionamentos e observações do que é ou não ativismo gordo, qual ativismo é válido e qual é só comercial. Resumindo, uma confusão generalizada sobre o que é influencers, body positives, ativistas gordas, pesquisadoras ativistas…

Sempre que o universo gordo virtual entra em convulsão ao contrário da maioria das pessoas que sentem muito, eu gosto muito porque existe uma explosão de pensamentos e opiniões na internet que eu consigo ver claramente o que nós gordes estamos entendendo por ativismo gordo e tudo que está ou não ligado a essa luta.

E essa semana ficou bem claro que está faltando ler, pesquisar, buscar informações sobre temas que defendemos, é fundamental em qualquer ativismo, imagina então, no ativismo gordo que está engatinhando aqui no Brasil?

Quando se defende uma luta é preciso saber sobre o que se está falando, e assumir seu ativismo e não de outras pessoas. Falar de autoestima, lacração rende grana, patrocinadores e a galera em geral quer isso, e também não vejo nenhum problema nisso, já que influencer é um trabalho como qualquer outro, se vende uma força de trabalho.

Proponho então, tentar entender o que é cada coisa, ou pelo menos refletir sobre esses conceitos. O que é um influencer, o que ele faz? Influencers influenciam outras pessoas a comprarem o que ele fala, veste, usa, pensa como verdades absolutas, mas por trás dele existem marcas/ideias que pagam para ele pensar, fazer, usar o que elas vendem, entende?

\"\"

 Segundo uma pesquisa apresentada no INTERCOM – Sociedade Brasileira   de            Estudos Interdisciplinares da        Comunicação em 2017, por Fernanda de Faria Medeiros, doutora em Comunicação Social pela UFMG e Paulo Henrique Basílio Santana, graduando do Curso de Comunicação Social: Publicidade e Propaganda da PUC/MG, chama a atenção da importância em “pensar que a explosão de influenciadores digitais, blogueiros e youtubers nasce de um contexto oportuno, em que a mídia, cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, difunde a ideia da fama como uma possibilidade real para a conquista da prosperidade.” Ou seja, se você segue um influencer, mesmo que ele milite por alguma causa, saiba que por trás de seu discurso existem marcas/ideias que irão se aproveitar do nicho de seguidores daquele influencer, e o influenciador digital busca seguidores, reconhecimento e fama.

É assim que funciona, e isso não tem nada haver com você escolher A ou B para seguir, siga quem você quiser, ninguém tem nada haver com isso, é uma escolha de consumir isso ou aquilo na internet, é pessoal. Mas, também não se engane, já que nossas escolhas são manipuladas socialmente, mas isso já é outra história, mas faz parte da discussão.

A Izabela Domingues e Ana Paula de Miranda, doutoras e pesquisadoras do consumo, moda, tendências, comunicação escreveram um livro muito bom que se chama Consumo de Ativismo, indispensável para quem se reconhece como ativista, que explica “Consumir não se separa da cultura; está intrinsecamente associado aos processos sociais; há valores, significados e discursos implícitos e/ou explícitos de poder, seleção, classificação e organização nos mais distintos contextos sociais. Enfim, o consumo é um código que “traduz” muitas relações sociais e classifica objetos e pessoas, produtos e serviços, indivíduos e sociedades.”

Voltando a nossa discussão sobre o que é o que. Na minha tese de doutorado, me debruço sobre essa questão e o que pude observar é que existem muitas mulheres gordas procurando mudar suas questões e sofrimentos sobre seu próprio corpo,  mas a condição estrutural e institucionalizada da gordofobia está tão enraizada em nossa cultura que esse processo leva um tempo, e cada mulher passa por diversas fases e enfrentamentos para se denominarem ativistas gordas ou entrarem numa luta.

Não existe um manual para ser ativista, é uma construção pessoal e você deve construir o seu ativismo, naquilo que acredita e não no que outras pessoas dizem para você ser, fazer ou seguir, digo isso, porque é perigoso seguir e não sentir.

Sobre esse processo de descoberta, conhecimento e enfrentamentos, e digo em primeira pessoa, porque minhas redes de pesquisadora ativita,-“militância”- começaram com o nome “Gorda Linda” e, depois de um ano, percebi que a beleza não era mais uma questão de luta no meu ativismo, já que essa fase tinha sido ultrapassada, e questões como patologização e acessibilidade começaram a ser mais importantes no meu ativismo.

Talvez, por isso, o movimento body positive se confunda muitas vezes com o ativismo gordo; mesmo não sendo a mesma coisa, promovem um autoconhecimento de seu próprio corpo como valorização de sua história, muitos depoimentos passam por essa discussão, e também, convenhamos é muito mais cult dizer sou body positive, do que sou ativista GORDA, não é fácil e leva muito tempo para uma pessoa que entendeu a vida toda,  gorda é sinônimo de coisas horríveis, agora se autodenominar assim, leva tempo e muito conhecimento do tema.

O ativismo gordo vai além da aceitação do próprio corpo, visto que a proposta é do empoderamento através do conhecimento para uma luta de despatologização e acessibilidade do corpo gordo na sociedade contemporânea. Destruir a estigmatização estrutural é necessária e só se faz isso quando levamos a discussão para o entendimento epistemológico de um saber colonial patriarcal que padronizou o corpo magro como o único possível.

Segundo a pesquisa da Carolina Duó Souza, […] o movimento Body Positive (Positividade Corporal) nasce nos Estados Unidos da América, no final da década de 1990, com a iniciativa de duas mulheres: Connie Sobczak e Elizabeth Scott; elas fundaram o instituto The Body Positive, movidas pela paixão compartilhada de criar uma comunidade viva e curativa que oferecesse liberdade de mensagens sociais em contraposição àquelas sufocantes que mantêm as pessoas em uma luta perpétua com seus corpos.

Já o nascimento do Ativismo Gordo nasce no final dos anos 70 e princípio dos 80, vinculado a feministas e o movimento hippie nos Estados Unidos, conhecido como Fat Underground com a morte de uma mulher gorda famosa, cantora Cass Elliot que foi negligenciada pelos médicos por estar gorda, ocasionando sua morte. (DEAN, BUSS, 1975.

Esse movimento, ativismo gordo impulsiona pesquisadores ativistas que começam a propor outro olhar no debate sobre os corpos gordos, estudos sobre a gordura nos Estados Unidos, os “fat studies”, pioneiros nesse debate, os quais procuram entender corpos gordos além da patologização que acaba estigmatizando a pessoa gorda.

Como algumas pesquisas mostram, o discurso médico que naturaliza todo corpo gordo como doente acaba favorecendo um mercado milionário da beleza, alimentação, farmacêutica, cirurgias, etc. A proposta é que essa discussão sobre a patologização do corpo gordo também seja analisada de um ponto de vista sociocultural, com reflexões críticas sobre como a comunidade médica vem reforçando a estigmatização desse corpo e, assim, não contribuindo o suficiente para entender efetivamente qual é o significado dele na sociedade contemporânea. (FISCHLER,1995); (MURRAY, 2009); (FIGUEIROA, 2014); (LIPOVETSKY, 2016); (POULAIN, 2013); (SANT’ANNA,1995); (MATTOS, 2012).

A confusão existe, mas definitivamente não são as mesmas lutas. O body positive foca em todos os corpos e na quebra do padrão único de beleza e as ações estão muito ligadas a moda, autoestima, belezas diversas, etc.

Já o ativismo gordo está focado em contrapor a estigmatização dos corpos gordos socialmente, na despatologização desses corpos e na acessibilidade quase inexistente por causa da gordofobia.

Assim o ativismo é uma construção, que nunca termina e sempre está em transformação, e nessa discussão também vai aparecer a discussão sobre o feminismo gordo, muitas militantes contam que, dentro do feminismo, essa temática é invisibilizada, e que muitas delas, como eu, sofreram por não poderem levantar essa bandeira dentro das pautas de coletivos em diversos lugares e momentos do feminismo. Contudo, o ativismo gordo luta dentro do feminismo para ocupar e validar essa luta, mas infelizmente existem feminismos, e em sua maioria, não percebem a importância dessa discussão dentro deles.

Espero, sinceramente ter esclarecido alguns pontos para quem se interessou em ler, seja provocado a conhecer um pouco mais sobre as diferenças entre body positive e ativismo gordo, fazendo assim que você se desvende em qual situação quer se identificar, ou não.

Para Consultar:

DEAN, Marge. e BUSS, Shirl. Fat Underground , 1975. Disponível em: <https://youtu.be/UPYRZCXjoRo.>.  Acesso em 16 jul. 2016.

DOMINGUES, Izabela; MIRANDA, Ana Paula de. Consumo de Ativismo. Barueri, SP: Estação das Letras e Cores, 2018.

MEDEIROS, Faria, Fernanda; SANTANA, Basilio, H., Paulo. A performance do comediante nordestino e a imagem de Whindersson Nunes. O youtuber visto como celebridade ordinária. INTERCOM – Sociedade  Brasileira       de Estudos Interdisciplinares       da Comunicação, 2017. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-0988-1.pdf. Acesso em 07 dez. 2019.

SOUZA, Carolina Duó. BODY POSITIVE – ESTUDO DE CASO NAS MÍDIAS DIGITAIS. 2019. 42 f. Monografia (Especialização em Estética e Gestão da Moda) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 2019.

Obs. Esse texto foi publicado no TODAS FRIDAS em 2020.

Mulheres fortes e exaustas!

Esse fim de ano de 2019 eu terminei exaustamente exausta, tanto mentalmente como meu corpo pedia através de dores e muito cansaço para que eu parasse de fazer coisas. Assim que acabei a tese, senti um peso em mim que já não dava mais para seguir sem falar sobre todo esse sentimento e cansaço que eu estava vivendo.

 Pensei em muitas coisas que eu tinha feito naquele ano, e minhas deusas, eram tantas coisas, tantos perrengues, tantas lutas, tantas escrituras, viagens, discussões, perseguições, comecei a chorar  de cansaço, de perceber que tinha trabalhado exaustivamente e não tinha dinheiro para pagar meu aluguel se eu não inventasse alguma coisa rapidamente.

\"\"

No final vi que está tudo misturado, trabalho, ativismo, meu corpo gordo feminino, feminista, anarquista, sul realista, rsrsrsrs, as vezes não dá para separar: eu vivo o que eu acredito, estudo, falo e luto, mas eu sou mais que tudo isso, muito mais, eu pago aluguel, tenho que comer, vestir, calçar, ir e vir, estudar, ler, falar, viver, amar…

O mundo tem sido muito cruel conosco, mulheres “fortes”, estamos adoecendo porque as pessoas confundem fortaleza com abandono, quem é que apoia essas mulheres? É sobre isso que proponho a reflexão nesse texto, as mulheres fortes que você elogia e acha foda, está exausta.

Conversando com uma amiga que também se sentia assim, percebemos que existe uma necessidade de falar sobre isso, porque a gente é forte, não necessitamos de cuidados, apoio, ajuda? Não é bem assim não, muito pelo contrário, essas mulheres necessitam em dobro o nosso cuidado, carinho, apoio e ajuda, elas estão liderando lutas pesadíssimas, fazem trabalhos exaustivos todos os dias, horas e momentos de sua vida e na maioria das vezes não ganham pra isso.

\"\"
Woman lying in bed with face buried in pillow

Porque ser ativista e vestir essa camisa na vida, é isso você tá no mercadinho comprando o almoço e a caixa tá falando de regime, você tá no barzinho com seus amigos e eles estão falando de como engordaram no natal, é o tempo todo a toda hora uma luta, não tem descanso se você não perceber isso a tempo e criar uma rede de amigas e apoio, adoece…

E rede de apoio demora para ser formada, tem muito mais gente pra julgar seu trabalho que pra te dar afeto e poio, isso é sentido nas entranhas da carne de toda mulher forte e exausta, é só perguntar que ela conta.

Incrível que as pessoas não percebem, você pede ajuda e elas propõem um novo trabalho, de graça de preferência, já que você é ativista não precisa de dinheiro, é uma confusão enorme, ainda existem as que te acompanham e te chamam para dizer o que você pode ou não fazer no SEU ativismo, como se houvesse um termômetro, um manual, uma só maneira de lutar… Situo-lhes informar, que isso não existe, faz sua parte e respeita as outras lutas… Isso também é sororidade, gordoridade, empatia, ou como você queira chamar!

\"\"

Respeita o trampo duro da outra mana, se coloca no lugar dela, que mais que julgamento ela pode estar precisando de um elogio, uma força, um carinho em palavras. Na verdade, fiquei pensando que isso também é uma violência, pensa comigo, todas as mulheres que assumem uma luta são muito criticadas e anuladas e vigiadas e julgadas, etc…

Conversei com algumas mulheres que se sentem assim, fortes e exaustas de tanta pedrada, de tanta falta de noção e afeto … Esse fim de ano o que mais ouvi foi, estou cansada de ser ativista é muita decepção e sofrimento, estou desiludida …. Pelo amor das deusas tem alguma coisa muito errada aqui… PAREM PENSEM E MUDEM!

Não sei bem se era ela, mas acredito que sim, Simone de Beauvoir pontuou como outras que vieram antes de nós, que é necessário uma crítica ao que se faz, um olhar mais profundo ao que se propõe, onde está isso? Aproveitemos o começo do ano para pensar sobre isso… Vamos lá:

– Quantas mulheres fortes você ofereceu ajuda no ano de 2019?

– Quantas mulheres fortes você deu sua mão, ouvido em 2019?

– Quantas mulheres fortes você ofereceu um café, uma cerveja em 2019?

– Quantas mulheres fortes você ofereceu um trabalho em 2019?

– Se você é a mulher forte, conversou com alguém sobre sua exaustão?

Talvez o que falte, é a proposta da reflexão sobre nosso papel no feminismo, na nossa rede de mulheres, de apoio, de proteção, e… não vale escolher algumas, e outras você não estar nem aí… Veja, esse pensamento não tem nada haver com vitimismo, não é isso. A proposta aqui, é juntar os cacos e se refazer, porque a luta continua.

\"\"
Woman lying in bed with face buried in pillow

O patriarcado colonial se alimenta dessa exaustão, é necessário pra que mulheres fortes desistam, morram, se anulem na luta, quem é que cuida dessas mulheres fortes e exaustas? Nós? Como?

A Re (existência) nesse mundo por uma luta diária precisa ter apoio, mas também precisa ser cuidada, não tem nada de errado ao invés de você, o tempo todo pedir ajuda, também dar ajuda, doar seu tempo para essas manas que estão a frente, dividir o peso, as angústias, os ataques, isso é feminismo.

Mulheres fortes estão exaustas, precisamos pensar na sobrevivência de cada uma delas, não só daquela que sai na tv, tem milhões de seguidoras, talvez essas estejam menos exaustas que aquelas que lutam, trabalham muitíssimo e no final do mês não conseguem pagar seu aluguel, comprar um livro.

\"\"

Ajudem mulheres fortes, mulheres fodas para que não fiquem exaustas, a revolução será feminista ou não será, se essas mulheres estiverem na linha de frente bem e não exaustas!

Obs: Esse texto foi escrito para TODAS FRIDAS em 2019.

GORDOFOBIA NA ESCOLA: LUTE COMO UMA GORDINHA!

Ontem uma mãe gorda de gêmeas me mandou um e-mail contando com muita dor, sofrimento, e sem saber o que fazer, numa situação de gordofobia aos corpos gordos de suas filhas de 4 anos na escola.

“Preciso de ajuda! Minhas filhas chegam da escola tristes, chorando e não querem conversar sobre o que aconteceu, isso já está acontecendo a algumas semanas, mas ontem a Bia me disse: – mamãe a gente precisa fazer regime, comer menos, emagrecer. Já vinha notando a dificuldade delas na hora de comer, antes da escola comiam bem, hoje é um momento tenso, ruim. Não sei o que fazer, fui na escola e a coordenadora me disse que não aconteceu nada na escola, mas que eu deveria começar um regime, emagrecer e dar o exemplo para minhas filhas de como se cuidar. Eu sou mãe solo, cuido dessas meninas, da casa, e de tudo mais sozinha, sou trabalhadora, feminista, mas nunca imaginei que ia estar passando por isso com minhas filhas com 4 anos, você pode me ajudar?” (ANA, 36 anos).

\"\"

Esse não foi o primeiro, e nem será o último depoimento de mães assustadas com a gordofobia que seus filhos sofrem na escola, tenho ouvido com uma certa frequência histórias de dor e sofrimento com meninas cada vez menores.

A discriminação e exclusão pelas diferenças sempre existiu dentro das Instituições de Ensino, contudo têm emergido de forma nunca antes visto, com meninas na primeira infância, uma intolerância ao corpo gordo e têm tomado proporções devastadoras na formação dessas crianças, quanto se exige desde muito cedo, um corpo que não se tem: o corpo magro.

Por essa e outras questões de importância comum, entre pesquisadores, professores e instituições educacionais levantar a discussão sobre a estigmatização dos corpos gordos dentro dos espaços educacionais se faz urgente, necessário e efetivo.

Sabemos que esta estigmatização é estrutural e cultural, transmitida em muitos e diversos espaços e contextos sociais na sociedade contemporânea. Esse prejulgamento acontece com a desvalorização, humilhação, inferiorização, ofensas e restrições aos corpos gordos de modo geral.

\"\"

Provocar a reflexão sobre a estigmatização com os corpos gordos pelo corpo docente e comunidade escolar, se propõe focar o entendimento que um lugar que as mães entendem como seguro: a escola, não tem cumprido com esse papel da tolerância e respeito aos direitos humanos, já que se está naturalizando um tratamento estigmatizador desde a infância com crianças, tendo continuidade na adolescência e fase adulta com pessoas gordas.

Desde criança, aprendemos em casa com a família e depois nas escolas que o corpo belo e saudável, é o corpo magro. Infelizmente, o corpo gordo nas Instituições de Ensino seguem a Gordofobia estrutural e, portanto repete a exclusão e estigmatiza a criança/adolescente/adulto gordo, causando fobias, medos, traumas, bulliyng e suicídios. Os profissionais da educação repetem a estigmatização, e de maneira geral não sabem lidar com o preconceito, culpando na maioria das vezes a própria vítima.

A estigmatização e exclusão do corpo gordo na escola está presente desde cedo, porque a escola não tem cumprido o seu papel de transgressão do pensamento hegemônico, parece que esse papel fica na responsabilidade da educação superior, já que se “acredita” que pensamento crítico e discussão sobre respeito a diversidade, direitos humanos é coisa de “comunista” e de humanas.

\"\"

Não estamos preparados para uma educação inclusiva, mas não assumimos esse despreparo, se fala de uma escola inclusiva, mas não se inclui. Infelizmente, essa é a realidade brasileira, e quem sabe, mundial.

Basta olharmos para a falta de acessibilidade nesses espaços, os uniformes, cadeiras, banheiros, escadas. Se faz uma encenação de escola inclusiva, mas na verdade estamos cada vez mais cruéis com a diferença; e a violência dentro das escolas mostra isso.

Quais são as formações dessas professoras e professores desde o ensino infantil sobre corpos dissidentes, diversidade e exclusão social? Me parece inexistente. Todos sabemos dessa situação, basta dar uma volta na sala dos professores que vemos e ouvimos o despreparo de muitos deles no quesito do acolhimento.

\"\"

Talvez, o resultado da última eleição nos mostre o que estamos construindo, uma sociedade extremamente cruel, ignorante e algoz. Assim, não é de assustar que crianças de 3, 4 anos de idade já pensem em regime, exercícios, emagrecer e sofram com toda essa imposição que começa a emergir substancialmente na formação de seres humanos, no espaço central dessa construção que é o lugar de ensino, o que está acontecendo dentro dessas escolas?

O resultado de uma formação baseada no preconceito e exclusão ao diferente, nos mostra que a gordofobia está na escola, como a escola está para a gordofobia.

Vemos uma crescente preocupação com alimentação saudável, sedentarismo, e todo esse mercado do emagrecimento impulsionando nossas crianças em obcecados pela magreza, mas nunca se vê projetos e trabalhos voltados a corpos que não são os normatizados, não vejo palestras sobre gordofobia, muito menos a temática na formação dos professores que estão contaminados por essa maneira de estar no mundo: MAGRA.

Quero usar este texto para chamar a atenção de todes os envolvidos em educação, infantil, fundamental, médio e superior, na formação de professores e seja lá quem você for para uma formação menos gordofóbica, provocando essa discussão, pesquisando, lendo, indo a uma palestra, roda de conversa sobre a temática.

Se essa pauta não for levantada a tempo para discussão e transformação dentro do espaço educacional, veremos nossas crianças, adolescentes e adultos se suicidando com muito mais frequência que a mídia tem nos mostrado.

\"\"

 Vejam o caso que foi muito comentado em 2017, mas logo entrou no esquecimento, da adolescente Dielly Santos de 17 anos, que se suicidou na escola em que estudava, em Icoaraci, no Pará. A estudante foi encontrada morta no banheiro. “Enforcamento”, apontam os laudos policiais. De acordo com a família da jovem, Dielly era vítima de gordofobia, e constantemente chamada de “lixo” e “porca imunda” pelos colegas, que gargalhavam após proferir tais ofensas.

O caso é tão sério, que mesmo depois da morte dessa menina, os comentários que seguiam a notícia eram para no mínimo acontecer uma intervenção educacional dentro das escolas, discursos de ódio imanente bate as nossas vidas e o Estado que tem como proposta única nos proteger, colabora com ele.

Proponho que repensemos o papel da educação a partir da igualdade que Paulo Freire levanta em seus estudos, quando aponta em sua obra Pedagogia da Autonomia que “ninguém é superior a ninguém”. Essa afirmação surge de um contexto quanto é importante na relação educadores e educandos estarem numa relação de igualdade, e que todos estejam atentos ao que o outro pensa e sente, uma escuta atenta ao outro.

Para o filósofo “aceitar e respeitar a diferença” é uma condição essencial para o respeito da diversidade, entender e respeitar o outro corpo que não é magro também se faz nesse exercício de respeito. Como ninguém é superior a ninguém, nenhum corpo também se faz superior a outro, pelo outro corpo não ser como se acha que deve estar.

\"\"

Assim, a igualdade de todos os corpos dentro da escola, se faz uma parte da prática educacional como condição política e condicional para que essa diversidade de corpos sejam enriquecedoras e não aniquiladoras, e essa condição é um direito garantido constitucionalmente.

Dessa maneira, espero que você leitor ou leitora se atente a questão dos corpos diversos e exija o respeito a eles, seja você educador, aluno, família, comunidade, ser espeitado com nossas diferenças é um direito e ninguém pode nos tirar isso. Existimos e resistimos!

Proponha em seu espaço debates sobre a gordofobia é de importância emancipadora para nossa sociedade do ódio e exclusão imanente.

PARA CONSULTAR:

– FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2017.

– JIMENEZ-JIMENEZ, Maria Luisa. Gordofobia: uma questão de perda de direitos, 2018. (Blog/Facebook). Disponível em: http://www.todasfridas.com.br/2018/03/11/gordofobia-uma-questao-de-perdaa-de-direitos/

-JIMENEZ-JIMENEZ, Maria Luisa. Gordofobia Médica: A reprodução do Estigma Social, 2018. (Blog/Facebook). Disponível em:  http://www.todasfridas.com.br/2018/07/23/gordofobia-medica-a-reproducao-do-estigma-social/

– HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, 2017.

Obs: Esse texto foi publicado em 2019.

Pelo Direito a Não querer emagrecer e Ser GORDA!

RESPEITO AOS CORPOS DIFERENTES!

Ser GORDA em nossa sociedade tem sido cada vez mais uma luta por direito de existir, se aceitar Gorda. Acaba-se levantando uma bandeira pelo existir do jeito que se é. Se você é GORDA e está fazendo regime, malhando e sofrendo muito, tudo bem, isso pode, mas ser GORDA e não querer fazer regime, nem emagrecer isso é abominável no mundo atual.

Em nome de TODAS AS GORDAS NO MUNDO que não querem mais entrar nessa cilada escrevo este texto.

\"\"

Existem legiões da magreza do corpo que irão humilhar perseguir, excluir até que você queira “tomar uma medida”, geralmente em nome da saúde pessoas passam fome, machucam ou mutilam seus corpos para satisfazer e serem aceitas no grupo social, acredita-se que auto estima vem de fora, e querida acredite isso é uma cilada e você vai entrar em colapso, porque autoestima de fora pra dentro é mentirosa, não são as pessoas que devem gostar de você, muito pelo contrário é você que deve se olhar no espelho se ver fora do padrão e estar tudo bem, porque seu corpo tem história, é o único que você tem e ele merece respeito.

Essa legião de caçadores aos corpos gordos é extensa e nefasta, geralmente começa na família, e desde pequena se é ensinado que para sermos amadas devemos ter o corpo magro, custe o que custar, depois na adolescência se exige um padrão maluco de corpo e alma e continua valendo tudo para se encaixar: tomar remédios, malhação, jejum, vomitar, seja o que for. Na vida adulta é onde as paranóias de uma vida toda, focada em ser magra se caracterizam em depressão, dor, tristeza, chegando a acreditar que vale a pena qualquer coisa para emagrecer e que depois dessa conquista seus problemas acabarão, SQN apenas começarão.

\"\"

Pensando nessa condição, na qual temos que fazer regime e estar magra, cobrança essa justificada pela saúde, para casar, arrumar namorado, entrar nas calças apertadas, usar biquíni na praia, caber numa cadeira, entre outros milhões…

Somos massacradas por essa ideia desde que nascemos, já que geralmente nossas mães, logo que nascemos querem emagrecer e voltar ao corpo que tinham antes de nosso nascimento, nem chegamos ao mundo e o ser que a gente mais depende já está preocupado em emagrecer, que sentimento é esse que nos é passado desde que damos a nossa primeira mamada: alívio pelo parto, amor pelo filho, mas muita insegurança pelo corpo que mudou, inchou e cresceu.

O que é fato, “natural”, trata-se como abominação, cada vez mais frequente vermos gestantes em academias, dietas, inúmeras matérias, dicas e produtos de como ser uma grávida saudável e fitness, perfis no istagram bombam o passo a passo de mulheres gestantes pegando pesado na malhação.

O pavor de engordar na gestação leva muitas mulheres a fazerem qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, e sempre disfarçada pela preocupação à saúde, sustentado pelo discurso saudável para não engordar nem na gravidez.

O entendimento midiático normatizado de saudável pelo discurso médico, não considera a subjetividade, as histórias de vida, os afetos, as relações familiares, ou seja as dimensões culturais locais, nota-se que no cenário econômico/político mundial a busca pelo corpo saudável caminha na contramão do que pode se considerar saúde.

\"\"

O filósofo médico francês Georges Canguilhem em 1982 escreveu o livro questionando a concepção de O normal e o patológico, para o autor existe um modelo reducionista, mecanicista e generalizador da Biomedicina que deve ser questionado. Os conceitos de doença e normalidade, patologia e anormalidade devem estar ligados entre o organismo e seu ambiente, essa análise deve ser marcada por construções e valores sociais. Assim que, o saudável, o normal não pode ser definido através de uma média aritmética, ou uma conta como o IMC (Índice de Massa Corporal), muito menos de um tipo ideal, padrão na maioria das análises que existem na área da saúde.

Dessa maneira, Canguilhem explica que o adoecimento não é um fenômeno puramente objetivo e biológico, já que o que acaba sendo considerado normal ou patológico está carregado por uma imensa carga de subjetividade. Resumindo, para o médico filósofo o conceito de saúde deve ter uma dimensão muito mais ampla do que das classificações por cálculos e/ou generalizações preconceituosas.

Outro filósofo que questiona essa concepção do doente e saudável no discurso médico é Michel Foucault (1962-1984) quando em sua obra “O nascimento da clínica” sobre a constituição dos saberes da Medicina, para o autor acaba acontecendo uma substituição sobre a forma de entender, ou olhar a “arte de curar” por uma focalização na doença do corpo. Acaba acontecendo um afastamento do entendimento sensível, da subjetividade, dos seus afetos, histórias e seu processo de adoecimento por uma valorização de um modelo de identificação geral, localizado e classificatório por cada doença. Para o autor, o que existe no Mundo ocidente é a medicina da doença e do doente.

\"\"

Naomi Wolf explica em seu livro “O Mito da Beleza” é como uma religião, estamos obcecadas e acreditamos fielmente que o corpo magro deve ser conquistado a qualquer custo.

A autora explica no capítulo A Religião, que “A cultura moderna reprime o apetite oral da mulher da mesma forma que a cultura vitoriana, através dos médicos, reprimia o apetite sexual feminino (…). O estado de sua gordura, como no passado o estado de seu hímen, é uma preocupação da comunidade. “Oremos por nossa irmã” se transformou em “Nós todos vamos incentivá-la a perder esse excesso de peso.”

Acaba faltando um questionamento sobre que rumo estamos tomando nessa questão de camuflar obsessão e preconceito com corpos que não estejam no PADRÃO SAUDÁVEL por preocupação com a saúde de corpos que cansaram de seguir esse discurso que causa dor e incompreensão.

 Já que estar feliz com o próprio corpo, entender que ninguém é igual a ninguém e que corpo não existe só um tipo: o magro, saúde não tem necessariamente haver com um corpo magro e malhado que passa na TV, aliás, muito pelo contrário, o corpo nesse sentido é vendido igual um carro, objeto, mercadoria.

Estar bem consigo mesmo é o princípio de estar saudável. Assim que venho nesse texto propor a reflexão que as pessoas podem estar GORDAS e não quererem emagrecer por inúmeros motivos: já tentou milhões de vezes e não conseguiu ou porque gosta de si como é, porque tem saúde e, principalmente por que precisa escolher entre ser feliz com o que se é, ou já se sentiu infeliz buscando produzir um corpo quase impossível para ser aprovada socialmente.

Exatamente isso ou talvez não, porque simplesmente não quer fazer regime, se sente bem com o corpo que tem, ou tem preguiça de seguir esses padrões da moda. Isso nem interessa muito, acho que o mais desumano nisso tudo é a imposição que se faz com os corpos diferentes.

E repetir essa imposição aos outros que não tem um corpo magro é preconceito e tem nome. A gordofobia mata, humilha, e está nas pequenas insinuações, gestos e situações que muitas vezes repetimos sem perceber. Falar pra alguém da família no Natal não comer tanto, ou para a amiga que tem um rosto lindo, ou que carboidrato é do mal na frente da amiga comendo um lanche, me parece que não cabe num mundo que grita por liberdade e diversidade. Cuidar do corpo alheio é tão prejudicial quanto empurrar uma velhinha da escada.

Porque é isso que se faz quando se é gordofóbico e não aceita o corpo GORDA, empurrar essa pessoa ao estigma de exclusão, vexamento e tristeza que muitos passam e/ou já passaram. Isso é crueldade! E que fique claro, que ninguém pode se sentir superior ao outro porque tem um corpo mais magro, malhado ou sei lá por que.

\"\"

Existe a necessidade de dar um basta nessa caça as gorduras em nossa sociedade, é repetir uma imposição comercial que gera lucros milionários a empresas que a maioria das pessoas nem sabem que existem.

Não podemos ser ingênuas e consetir com essa maneira de entender os corpos no mundo, repetindo estigmas e colocando pessoas a beira de suicídios e vidas de tristeza e medo. Não dá mais!

Tente começar por você e seja solidário ao diferente ao seu lado, cuide que esse corpo diferente seja acolhido e amado como todos os outros… Mude o seu entorno e estará mudando muitas vidas… Quando ver uma pessoa GORDA não cabendo numa cadeira ou banco, roupa não ria disso, pois não é engraçado, ajude com um olhar, ou mesmo mande um pensamento de apoio.

A gordura ainda é vista no meio de pessoas que se consideram “críticas socialmente” como algo repugnante, luta contra racismo e homofobia, machismo, mas dá risada de GORDA na rua em espaços públicos. PARE! Não é legal.

Pense em você e em seu corpo, pense na dificuldade que é se amar mesmo sendo magra, imagine o outro que não é. Tenha sororidade e ajude aos corpos dissidentes periféricos e suas lutas em existir, porque é isso que uma mulher GORDA faz quando não quer emagrecer, fazer uma bariátrica ou começar mais um regime da moda: EXISTIR.

Quando falamos de Resistência e ninguém solta a mão de ninguém, é exatamente disso que estamos falando, desses corpos que são excluídos e mal tratados pelo simples fato de não se encaixar naquilo que vende.

Para Consultar

BUSS, Paulo Marchiori. Promoção da Saúde e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva, v. 5, n. 1, p.163-177. 2000.

CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. 4ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense; 2004.

JIMENEZ-JIMENEZ, Maria Luisa; ABONIZIO, Juliana. 2017. Gordofobia e Ativismo gordo: o corpo feminino que rompe padrões e transforma-se em acontecimento. XXXI Congreso ALAS Asociación Latino América de Sociología, Género, Feminismos y sus aportes a las Ciencias Sociales. Movimientos sociales, acciones colectivas y participación políticas.

LAZZARATO, Maurizio. 2006. As revoluções do capitalismo: A política no império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

WOLF, Naomi. O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

Obs. texto publicado no TODAS FRIDAS em 2019.

Lute como uma gorda é um blog criado pela Profa. Dra. Malu Jimenez, ativista e pesquisadora do corpo gordo. Aqui reunimos e potencializamos conteúdos sobre este tema, a fim de construir, conectar e formar pessoas que se interessem pela causa.

Explore o Universo Malu:

Cursos e Livros para sua Jornada de conhecimento!

Este livro é resultado de sua pesquisa que teve origem em sua tese de doutorado, a qual propõe análises teóricas para investigar a estigmatização institucionalizada sob a qual os corpos gordos são colocados. Lute como uma gorda está disponível para venda e comprando por aqui você recebe uma dedicatória especial da autora